5 de maio: Dia Internacional da Língua Portuguesa
5 de maio de 2020Entre o conhecido e o suspeito – um suposto não-saber ainda…
21 de maio de 2020Fausto Antônio de Azevedo
Estrelas e lágrimas
Estrelas e Lágrimas
Estou aqui com uma mochila azul
Sentada com os olhos ao céu.
De estrela em estrela, a noite cresce sobre mim
E as constelações fazem todo seu giro lentamente
Coisa nova pra mim.
A nossa casa está em chamas
A cidade lá em baixo desmorona sob uma outra guerra.
E eu aqui.
De estrela em estrela
A noite fora e dentro de mim.
Eu choro, choro
Nos olhos estrelas e lágrimas
Olho meus pais, dormem ao meu lado
Amanhã estarão tão longe
Eles não sabem
Que uma outra estrada seguirei
Amanhã colocarei minha mochila
Sobre suas costas cansadas.
Eu não conseguirei!
Meu coração está em pedaços agora
Só se eu penso, mas não posso abandonar
A minha cidade.
De estrela em estrela
A noite passa sobre mim.
Eu fico, e choro
Nos olhos estrelas e lágrimas
De luz em luz
O amor é a minha estrela, a única
Uma ponte de fogo
Pouco a pouco se aproxima, se aproxima!
Hei, hei, hei, você não sabe que o amor
Tudo vence, tudo!
Hei, hei, hei o amor, vai ver, vence tudo
Também esta noite!
Olho no fundo, lá em baixo,
Olho no fundo, lá em baixo,
Olho no fundo, lá em baixo,
Olho no fundo, lá em baixo,
A luz, a luz.
Estou aqui, atravessando a aurora com o meu sim.
Qualquer que seja o tempo – atmosférico, emocional, psíquico, ou intelectual, e por mais tormentoso que seja ele, a depender do olhar de cada qual sempre haverá uma possibilidade de se ver estrelas no céu. E Chiara as viu, e as vê reluzir até hoje!
São muito duros esses tempos de agora: incertezas, medos, transformações, perdas, destruição. Era também assim o tempo naquele dia 13 de maio, em 1944, quando a jovem Chiara saiu perplexa do abrigo antiaéreo e encontrou sua cidade metamorfoseada em escombros e cinzas; corpos mortos pelas ruas, conhecidos desaparecidos, o medo, a perplexidade, a fome, estampados nos rostos dos que vagavam por entre a poeira e o cinza.
“O dia 13 de maio marca a vida de Chiara Lubich (nascida Silvia Lubich). Durante a segunda guerra mundial entendeu que deveria deixar a sua família e permanecer na cidade de Trento, para seguir a Deus, e hoje o fruto desse ‘sim’ se vê no Movimento dos Focolares ou Obra de Maria.” Na noite de 12 para 13 de maio de 1944, Chiara e seus pais foram dormir nas montanhas, ao relento, porque ficar em sua casa seria muito perigoso. Realmente, naquela noite o bombardeio destruiu todas as casas de sua rua, incluído a de sua família. Seus familiares se refugiaram nas montanhas. Mas, foi nesse momento quando Chiara decidiu permanecer em Trento para sustentar seus ideais e sua vocação (Ver: https://www.focolare.org/pt e https://smf.org.br/.)
Na trama sombria daquela guerra, Chiara seguiu sua vocação de transcendência e se determinou a iniciar uma obra de ajuda permanente a todos quantos vivessem um estado de carência, dificuldades e exclusão, mediante a orientação e aplicação do sentido do sofrimento do Jesus Crucificado. Em termos de psicanálise, ela reconheceu, acolheu e fortaleceu sua própria pulsão de vida, multiplicando-a por várias ordens de grandeza, ao apresentá-la como catalisadora para a vontade de viver daqueles que já ameaçavam não mais acreditar. A pulsão de vida em Chiara contagiou aos que com ela conviveram e/ou a conheceram, desde crianças e pessoas humildes até papas, presidentes, estadistas, líderes religiosos, etc. Ora se isso não é a sublimação em ação e em escala coletiva (retomar Freud em “Psicologia das massas e análise do eu”…), ora se isso não é a ética da alteridade em grau máximo e humildade plena (retomar todo o Levinas e o Buber em “Eu e Tu”…), ora se isso não é a pulsão de religiosidade refletida e posta em prática, esta mesma que o importante padre argentino Castellani (com formação em teologia, filosofia e psicologia) chamou de instinto de religiosidade em sua obra “Psicologia Humana”.
Seguramente a doação ética, humana e inteligente de Chiara nos serve de inspiração nesses momentos de dificuldade intensa e, seja no grau que for que cada um de nós possa de si doar ao outro, estaremos cumprindo um imperativo religioso, ético, moral, ao tempo em que estaremos fortalecendo nossa própria saúde mental na medida em que são os elos de união, os vínculos interpessoais, o compartilhamento do amor, que nos aproximam do belo e do bom, valores eternos do propósito humano! Eis, portanto, o melhor momento de nossas vidas para “Estarmos aqui, atravessando a aurora com o nosso sim.”