O inconsciente para crianças
30 de novembro de 2019A vontade como antídoto ao nosso desespero kierkegaardiano
15 de janeiro de 2020Não cessa a onda sempre crescente de absorção de jargões do idioma inglês em nossa língua Psi do Brasil, como os não muito longínquos anglicismos burnout (ver Burnout, contemplação, ócio e saúde, em https://tempoanalise.com.br/burnout-comtemplacao-ocio-e-saude-2/) e gaslighting (violência psicológica, quase nunca violência explícita, em que há manipulação psicológica de uma pessoa por outra, de forma insidiosa e perversa, frequentemente praticada por um homem contra uma mulher. A palavra derivou do filme Gaslight, de 1940 – no Brasil: À meia-luz, Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=SbGe4sUNT0s. Para saber mais sobre o assunto, ver o livro de Stephanie Moulton Sarkis: O fenômeno gaslighting, que foi lançado no nosso país em 2019 pela editora Cultrix – https://www.grupopensamento.com.br/produto/o-fenomeno-gaslighting-8365).
Agora nos chega o sadfishing (do inglês sad = triste + fishing = pescaria; “pescar tristezas”), uma expressão para designar certo tipo de confissão, desabafo, que pessoas fazem nas redes sociais, a respeito de questões ligadas à sua saúde mental. Trata-se, portanto, de ressaltar problemas para chamar atenção online; “de fazer reivindicações exageradas sobre os problemas emocionais de alguém para gerar simpatia”.*
O termo foi lançado pelo jornal Metro News, da Inglaterra, em janeiro de 2019, num artigo de Rebecca Reid: Sadfishing: Using your sadness to get comments and shares is making misery profitable.** A origem deu-se quando a celebridade Kendall Jenner (do clã Kardashian) confessou seus problemas com acnes, mas depois postou belas fotografias enquanto falava sobre o caso.
O objetivo, portanto, é prender a atenção dos seguidores e/ou ganhar “likes”.
Pesquisa da agência Digital Awareness UK (DAUK – https://www.digitalawarenessuk.com/)***, noticiada em 1º./outubro, desnudou o fenômeno indicando que jovens acusados de praticar sadfishing são vítimas de bullying e ciberbullying, e que a popularização da prática pode prejudicar a saúde mental de crianças e adolescentes que já sofrem com problemas do tipo. Fala-se, também, em campo oportuno para ataques de pedófilos.
As redes sociais têm sido um ambiente apropriado à exibição narcísica (como especialistas já apontaram) de uma vida de felicidade e sucesso. Essa hegemonia de uso foi questionada com os Fake Instagrams (ou Finstagram, perfis privados para publicação de momentos tristes ou constrangedores) e, a partir disso, outros tipos de conteúdo passaram a ganhar terreno. Os sadfishings tendem a glamurizar a tristeza.
A prática, em termos de hipóteses, pode acontecer como decorrência de um baixo nível de amor próprio e da percepção de não atrair suficientes atenção e elogios, o que encerra também um componente narcísico. Pode-se pensar, ainda, em solidão, depressão, ciúme, inveja, ou, até mesmo, uma estratégia de conquista.
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* COUGHLAN, Sean. ‘Sadfishing’ social media warning from school heads. BBC, 1/out/2019.
https://www.bbc.com/news/education-49883030
** Ver: https://metro.co.uk/2019/01/21/sadfishing-social-media-trend-making-misery-profitabl-8367931/
*** Ver: New DAUK/HMC report identifies latest online trends. 1 October 2019. Posted by HMC Press Office. https://www.hmc.org.uk/blog/new-daukhmc-report-identifies-latest-online-trends/; LOUBAK, Ana Letícia. O que é sadfishing? Tática usa posts tristes para atrair pessoas. https://www.techtudo.com.br/noticias/2019/10/o-que-e-sadfishing-tatica-usa-posts-tristes-para-atrair-pessoas.ghtml; e Healthline: Why Teens Turn to ‘Sadfishing’ on Social Media https://www.healthline.com/health-news/why-teens-turn-to-sadfishing-on-social-media.