Do abuso infantil às adições no adulto
5 de junho de 2020Freud: oralidade e textualidade – um Freud metafísico?
15 de junho de 2020por Fausto Antonio de Azevedo
palavras-chave: Schinaia, psicanálise, inconsciente, meio ambiente.
A criatura que agride seu ambiente se destrói.
Gregory Bateson, Para uma ecologia da mente, 1972.
Ao permitir ao homem, a natureza fez muito mais do que um erro de cálculo:
ela cometeu um ataque a si mesma.
Emil Cioran, A inconveniência de nascer, 1987.
PARTE 1
A Sociedade Psicanalítica Italiana, em sua página na “web” – SpiWeb (https://www.spiweb.it/libri/linconscio-e-lambiente-di-c-schinaia/), divulgou o recente livro do psicanalista Cosimo Schinaia: “L’inconscio e l’ambiente – Psicoanalisi ed Ecologia”
[Roma: Casa editrice Alpes, Anno: 2020. 176 p. – https://www.alpesitalia.it/prodotti-750-l_inconscio_e_l_ambiente].
A estrutura do livro é a seguinte (tradução minha, sujeita a percalços…):
- Prefácio Lorena Preta (ver: http://www.psychiatryonline.it/node/8736 );
- Introdução – O papel da psicanálise;
- Capítulo 1 – Nós e o ambiente;
- Capítulo 2 – A relação de Freud com o ambiente;
- Capítulo 3 – A psicanálise e a crise ecológica;
- Capítulo 4 – Os resíduos;
- Capítulo 5 – O desperdício;
- Capítulo 6 – A poluição luminosa e acústica;
- Capítulo 7 – Do individual ao social;
- Capítulo 8 – O conflito trabalho-saúde;
- Capítulo 9 – Servos do futuro;
Posfácio Luca Mercalli.
A editora assim nos explica a obra:
“A psicanálise é um recurso precioso para aprofundar o estudo dos mecanismos de defesa individual e coletiva que impedem a conscientização plena e madura para a gravidade da crise ambiental.
Diante da evidência objetiva do dano sofrido, mas também do que podemos causar potencialmente, dos quais ficam cada vez mais claros a magnitude e o perigo, achamos difícil registrar emocionalmente, mesmo antes cognitivamente, o que aconteceu, o que está acontecendo e o que ainda pode acontecer.
“É impossível falar de um imaginário individual sem considerar o coletivo que o subjaz e de fato o impregna em uma relação de codeterminação mútua. E não podemos atestar a imagem de um ambiente que é apenas um exterior desprendido da representação que temos em nosso interior.
“O livro, que Lorena Preta define como necessário, propõe, em um entrelaçamento de reflexões entre as histórias e narrativas individuais que ganham vida na sala de análise e a imaginação coletiva, destacar os confusos investimentos emocionais e as ansiedades que estão na base de defesas patológicas, incluindo negação, remoção, intelectualização, divisão, deslocamento, denegação.”
Cosimo Schinaia vive e trabalha em Gênova. Ele é psicanalista e psiquiatra, com funções de treinamento na Sociedade Psicanalítica Italiana, e membro titular da IPA. Escreveu numerosos artigos científicos em revistas italianas e estrangeiras e ensaios em coleções. Entre seus livros, mencionam-se: “Do hospício à cidade”, Laterza, 1997; “O quintal de idéias”, La Clessidra, 1998; “Pedofilia Pedofilias. A psicanálise e o mundo dos pedófilos”, Bollati Boringhieri, 2001 (traduzido para o português); “O interior e o exterior. Psicanálise e arquitetura”, Il Melangolo, 2014. (https://www.alpesitalia.it/autori-463-schinaia_cosimo)
PARTE 2
Alegrou-me demais encontrar a indicação de tão importante livro do escritor italiano Cosimo Schinaia. Alegrou-me por alguém estudioso e dedicado pensar nessa linha. Há muitos, bem sei, mas é sempre bom descobrir mais.
Dias atrás, no Linkedin, saudei o 5 de junho, a data Mundial do Meio Ambiente, com uma nota triste sobre (mais) um derramamento de petróleo (https://www.linkedin.com/in/fausto-antonio-de-azevedo-71b419186/detail/recent-activity/shares/): são tantos já que vamos ficando dessensibilizados à indignação que o fato deveria provocar, outra prova contundente para a teoria da banalização do mal desde Hannah Arendt…
No mês de junho de 2017, publiquei no Portal da Tempo Análise, um longo artigo denominado “A Psicanálise, eu e o Meio Ambiente” (https://issuu.com/tempoanalise/docs/100_ta-a_psican.eu_e_o_m.amb ), espécie de confissão de percurso, causas e decepções… Eu dizia:
“Meu objetivo é, na condição de um aprendiz de psicanálise, mas com o contraste de uma antiga militância profissional e pessoal na causa do meio ambiente, procurar compreender, apreender e manejar conceitos e mecanismos fundamentais da “ciência da psique”, de forma a poder entender/(explicar) a relação até aqui tão negativa e destrutiva do ser humano com sua casa natureza, a qual lhe é útero, fonte de vida e de prazer, e é a única que ele tem e poderá ter. Sei bem das terríveis armadilhas de poder facilmente cair num psicologismo barato e espero estar alertado contra elas…”
Adotei a seguinte estrutura para o trabalho:
Como quis que se percebesse, o texto é um depoimento vivencial-profissional da incômoda perplexidade que permanentemente me assolou no quando-sempre eu constatava o desapego das pessoas para com a causa ambiental: refiro-me aqui a não absorverem uma reflexão profunda e crítica, transformada então em inabaláveis valores éticos e morais, mas sim a se intoxicarem de modismos ambientalóides de camisetas e musiquinhas, que podem ter lá seu valor, dizem alguns, mas atendem mais a projetos da mídia e de políticos do que verdadeiramente à manutenção saudável e ao respeito de “nossa casa comum” (ver: https://tempoanalise.com.br/laudato-si-fausto-azevedo/). Bom ver que grandes especialistas, como o Schinaia, continuam a agitar a bandeira e a buscar discussões e entendimentos em outro terreno explicativo que não o da economia, da educação, da cultura, etc., para somar idéias e propostas a essa razão que deveria ser a de todos nós e de todos os saberes.
Eu o aplaudo, Cosimo Schinaia!