Freud Está Em Toda Parte
22 de novembro de 2019Sadfishing
6 de dezembro de 2019Elisabeth Roudinesco, respeitada autora, tomou para si a empreitada difícil de explicar o Inconsciente para crianças. Assim, no livro O inconsciente explicado ao meu neto, numa escrita direta, sem se afastar da base teórica e com exemplar didática, responde a tantas e tantas perguntas que crianças – e todos nós – fazemos, com certo medo talvez, sobre essa tal parte da mente que desconhecemos e à qual quase não temos acesso.
Servindo-se das perguntas de uma turma de jovens (8 a 13 anos), ela desenvolve e articula texto, que começa com “O que é, exatamente, o inconsciente? ” E ela própria o explica, a partir de uma poética metáfora:
“Ele se parece com um iceberg. […] Imagine por um instante esse belo objeto inerte, com uma parte mergulhada na profundeza do oceano, enquanto a outra fica acima da superfície da água. As duas partes são diferentes: aquela invisível é mais importante do que a visível, e também mais perigosa, porque permanece encoberta. Todos os navegadores sabem disso. Eles temem muito mais o que está escondido do que o que está visível.”
Em oito capítulos, a autora vasculha aspectos diversos do inconsciente: da busca de entendimento sobre o que é até pontos polêmicos como reflexões sobre os animais terem ou não um inconsciente:
“Mas como podemos dizer que ele existe graças ao cérebro, se não podemos vê-lo? Porque o inconsciente é uma abstração, isto é, uma representação da mente: nós o pensamos, o sentimos e o construímos, mas não podemos tocá-lo, vê-lo ou capturá-lo. E é por isso que ele não pode ser simplesmente cerebral. Na verdade, embora ele não se encontre em lugar nenhum, ele se manifesta e se exprime. Ele está encoberto pela consciência, que nós também não vemos.”
Créditos da obra
Título: O inconsciente explicado ao meu neto
Autora: Elisabeth Roudinesco
Tradução: Fernando Santos
Assunto: Jovem leitor
Editora Unesp / 2019 / Edição: 1
Número de páginas: 120
Formato: 12 x 21 cm
http://editoraunesp.com.br/catalogo/9788539308002,o-inconsciente-explicado-ao-meu-neto
Assim arremata a editora em sua página na web:
“Star Wars, Titanic, o imaginário de contos e lendas, o sonho, o comportamento dos animais: é mergulhando no universo mental dos adolescentes de hoje que a mais conhecida especialista francesa em história da psicanálise confere substância a um elemento que, embora invisível, é determinante para nossa vida. ”
Elisabeth Roudinesco, historiadora e psicanalista francesa, tornou-se referência mundial na área de história da psicanálise. É pesquisadora afiliada de História, da Universidade Paris Diderot. Professora na École Pratique des Hautes Études, Paris. Exerce papel esclarecedor sobre temas atuais e tem presença ativa na mídia, escrevendo para o Le Monde. Escreveu grande quantidade de livros e, para a televisão, fez o roteiro do documentário Sigmund Freud, a invenção da psicanálise (com E. Kapnist, 1977). Conduz um seminário sobre a história da psicanálise na École Normale Supérieure. Biógrafa de Jacques Lacan e de Sigmund Freud, tem analisado a situação da psicanálise em todo o mundo. Foi agraciada com o Prix Décembre 2014 e o Prix des Prix 2014 por sua biografia de Freud (Freud In his Time and Ours) publicada pela Harvard University Press. Seu trabalho já foi traduzido para trinta idiomas.
Roudinesco esteve no Brasil, a convite do Fronteiras do Pensamento, para participar, de 9 a 15 de setembro de 2016, de palestras no Rio, em São Paulo e em Porto Alegre, e para fazer o lançamento de seu livro Sigmund Freud na sua época e em nosso tempo. (Ver: https://zahar.com.br/blog/post/encontros-com-elisabeth-roudinesco-no-brasil.) Antes disso, em outubro de 2014, ela também esteve cá entre nós, para participar de conferências em Porto Alegre e no Rio de Janeiro. (Ver: https://zahar.com.br/blog/post/elisabeth-roudinesco-no-brasil.)
De seus livros em português pode-se citar:
- pela editora Zahar:
História da Psicanálise na França (2 volumes) (1986 / 1988); Jacques Lacan (1994); Théroigne de Méricourt – uma mulher melancólica durante a Revolução (1997); Dicionário de psicanálise, com Michel Plon (1998); Por que a Psicanálise? (1999); A família em desordem (2003); De que amanhã… Diálogo, Elizabeth Roudinesco, Jacques Derrida (2004); O paciente, o terapeuta e o estado (2005); A análise e o arquivo (2006); Filósofos na tormenta, Canguilhem, Sartre, Foucault, Althusser, Deleuze e Derrida (2007); A parte obscura de nós mesmos (2009); Em defesa da Psicanálise (2009); Retorno à Questão Judaica (2010); Freud – mas por que tanto ódio? (2011); Lacan, a despeito de tudo e de todos (2011); Sigmund Freud na sua época e em nosso tempo (2016); Dicionário Amoroso da Psicanálise (2019).
- por outras editoras:
Jacques Lacan – Esboço de uma Vida, História de um Sistema de Pensamento (Cia. das Letras, 1994); Foucault: leituras da história da loucura (Relume-Dumará, 1994); e agora, o comentado O inconsciente explicado ao meu neto (Editora Unesp, 2019)
Mas como complemento já que estou com a mão na massa, e como o inconsciente não é um patrimônio exclusivo das crianças…, e também porque falei de uma grande historiadora e psicanalista francesa, vamos mencionar outra autora francesa, igualmente renomada, que nos ofereceu o livro: O inconsciente: que é isso? Trata-se de Colette Soler, filósofa, psicanalista, que se decidiu pela psicanálise após seu contato com Lacan – a pessoa e seu ensino. Seguiu-o, primeiro como membro da Escola Freudiana de Paris e, após a dissolução desta (1998), foi com Lacan para a Escola da Causa Freudiana.
Agrégée da Universidade em filosofia, diplomada em psicopatologia e doutora em psicologia, é idealizadora e membro fundador da Internacional dos Fóruns e da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano, onde atualmente leciona.
Colette escreveu o livro O inconsciente: que é isso?, lançado no Brasil pela AnnaBlume, em 2012, no conjunto da coleção Ato Psicanalítico, e do qual a editora registra em sua página na internet (http://www.annablume.com.br/loja/product_info.php?products_id=1746&osCsid=fepbaq56u55j4rgpmkd398isr2):
“Este ano vamos falar do inconsciente. O problema, como vocês sabem, é que não se pode falar daquilo que não existe. Mas e o inconsciente, então? Falamos dele, ele existe ou é uma ficção? É preciso ousar fazer essa pergunta, já que há tantos revisionistas negadores do inconsciente. Proponho, então, como epígrafe do ano a afirmação de Lacan segundo a qual ‘O inconsciente é um fato, na medida em que se sustenta no próprio discurso que o estabelece’. Ele ‘só ex-siste em um discurso’. Colette Soler (Formações Clínicas do Campo Lacaniano, Colégio Clínico de Paris, 2007-2008.) ”
“ ‘Podemos pensar que não estamos mais na época de Freud, quando este precisava defender, argumentar, advogar a sua invenção. Não, decerto, mas talvez esteja pior, pois tanto a banalização e a galvanização abusiva quanto a denúncia, por vezes feroz, do discurso da ciência desbancando a psicanálise, necessitariam talvez de uma vigilância e de uma postura mais tônica, e até mesmo mais despudorada, daqueles que se responsabilizam em transmitir a especificidade do discurso analítico e sua operatividade peculiar.’ (Da apresentação de Dominique Fingermann.) ”
Boas leituras!