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Projeto Geração de Futuro
22 de outubro de 2019![](https://tempoanalise.com.br/wp-content/uploads/2018/05/Mais-de-Freud.jpg)
Rubens Riveras Valverde nos presenteia com alguns vídeos caseiros de Sigmund Freud
25 de outubro de 2019A questão da preservação da saúde mental no exercício/ambiente de trabalho prossegue sendo um ponto crucial no todo da qualidade de vida das pessoas. Saúde Ocupacional e saúde mental no trabalho necessitam, cada vez mais, estabelecer uma união inseparável, amalgamada…
Para a OMS (Organização Mundial de Saúde), os serviços de Saúde Ocupacional devem oferecer as condições de garantia do mais alto grau de qualidade de vida no trabalho, protegendo a saúde dos trabalhadores por meio da prevenção de acidentes e doenças, com a identificação e redução dos riscos. Para aprofundamento, consultar a página da WHO (World Health Organization) e da ANAMT (Associação Nacional de Medicina do Trabalho).
A Saúde Ocupacional, dentre outros, envolve recursos da ordem da Medicina do Trabalho, da Engenharia de Segurança, da Higiene Ocupacional, da Ergonomia, da Toxicologia Ocupacional e (por que não?), das ciências Psi.
Assim, já a partir dos anos 1970-80, o francês Christophe Dejours, médico do trabalho, psiquiatra, psicanalista, passa a salientar a intricadíssima relação entre qualidade de vida no ambiente de trabalho e saúde mental, inaugurando os caminhos da Psicodinâmica do Trabalho, que, para ele, começa nos 1970, época também da psicopatologia do trabalho. Em meados dos anos 1990, seus estudos aprofundam o tema do sofrimento no trabalho, aliviando a relação causal precedente utilizada pelos psicopatologistas do trabalho de então. A preocupação agora passa a ser problematizar o sofrimento gerado na relação homem-trabalho, quando o trabalho é fonte de sofrimento, e está nas raízes de prováveis descompensações psicossomáticas.
A Psicodinâmica do Trabalho se apoia na Psicanálise e, conforme Maria C. Martinez e Ana Isabel B. B. Paraguay:
“Esta sub-área do conhecimento tem suas bases na teoria psicanalítica e se desenvolveu de maneira mais sistematizada a partir da de 1970, sobretudo na França, dentre outros autores, com Dejours, firmando-se com a análise da psicodinâmica das situações de trabalho (Seligmann-Silva, 1994). Nesta, a divisão das tarefas modularia o sentido e o interesse do trabalho para o indivíduo, enquanto a divisão dos homens modularia as relações entre as pessoas e mobilizaria a afetividade e, dessa forma, a organização do trabalho afetaria o funcionamento psíquico (Dejours & Abdoucheli, 1994).
Neste referencial teórico, o trabalho torna-se perigoso para o aparelho psíquico quando se opõe à livre atividade, quando a liberdade para organização do trabalho é limitada, opondo-se aos desejos do trabalhador, gerando aumento da carga psíquica e abrindo espaço para o sofrimento no trabalho. Dejours aborda o sofrimento no trabalho por meio da noção de “carga psíquica”, que se refere aos elementos afetivos e relacionais da carga mental do trabalho, onde a carga mental compreende fenômenos de ordem neurofisiológica e psicológica (Dejours, 1994).”
(MARTINEZ, Maria C., PARAGUAY, Ana Isabel B.B. Satisfação e saúde no trabalho – aspectos conceituais e metodológicos. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, v.6, dez. 2003. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172003000200005 )
Da importante contribuição de Dejours nesse campo, merecem destaque, sem dúvida, as obras:
- DEJOURS, Christophe. A loucura do trabalho: estudo de Psicopatologia do Trabalho. 5ª. ed. São Paulo: Cortez-Oboré, 1992. 168 p.
- DEJOURS, Christophe, ABDOUCHELI, Elisabeth, JAYET, Christian. Psicodinâmica do Trabalho: análise da relação prazer, sofrimento e trabalho: contribuições da escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. 13ª. reimpr. São Paulo: Ed. Atlas, 2012. 145 p.
Para trazer o tema e a preocupação aos dias de hoje, em 10 de outubro passado (Dia Mundial da Saúde Mental), o jornal Valor Econômico publicou uma matéria assinada por Barbara Bigarelli, sob o título “Um terço dos funcionários enfrenta problemas de saúde mental”, que refere pesquisa feita com 18 mil funcionários, de 14 países, dentre eles o Brasil, inclusa no “Kantar Inclusion Index” , a qual revelou que um em cada três funcionários sofre com questões envolvendo a saúde mental, com um distúrbio diagnosticado ou mesmo estresse, e 38% afirmam se sentir discriminados no trabalho por conta dessa condição. Dos entrevistados, 51% consideraram o suporte que recebem de suas empresas como insuficiente.
Portanto, atuar no sentido da inclusão e da atenção àqueles que reportam algum grau de desconforto mental produzido no/pelo ambiente de trabalho, muito mais do que venha a ser legalmente estabelecido, é, antes, algo de natureza humanitária, ética e moral, que deve ser implementado por um esforço social conjunto multissetorial e pluriprofissional.