Chiara Lubich, o projeto Geração de Futuro e os jovens nem-nem
13 de novembro de 2019Freud Está Em Toda Parte
22 de novembro de 2019Sou um produto de atração da filosofia e da psicanálise (ainda que adicto da poesia…). Assim, o título acima só poderia produzir em mim notável frisson.
Mas de onde o tirei?
De um livro de/sobre a Psicanálise…
Lançado recentemente – 2019, PSICANALISTAS DO SÉCULO XX, em seu último capítulo, ensejou-me a conjetura.
Mas vou passo a passo, como um Sherlock. Divagando numa livraria, corujando as prateleiras, dei-me frente a frente com o livro. Compra imediata. Com calma então, como quem fila as cartas no baralho, fui navegando página por página, esperando deparar-me com gratas surpresas, E foram muitas, admito. Boas escolhas para os psicanalistas e boas autorias. E nesse lento e gozoso folhear, cheguei ao último tópico, uma espécie de não-capítulo, por não abordar nomeadamente nenhum dos destacados psicanalistas do referido século, embora um dos maiores e esteja visceralmente subjacente (é o sujeito…) a cada frase do texto. Já a desconformidade com os títulos dos capítulos anteriores aguçou-me, e mais ainda o próprio título: Desejo não é ter. Gozar é não ser. Mas a recíproca não é verdadeira. Sentei-me e pus-me a ler/ter… Relativamente difícil, confesso, mas saboroso e provocante. Todavia, o mais desconcertante estava por vir: um subtítulo enigmático como: “Os filhos de Kant com Sade: como se dirige uma cura de uma parentalidade impossível? ”
É bem melhor que, neste ponto, o próprio autor nos fale:
“Kant e Sade à simples vista não parecem destinados a formar um matrimônio feliz. Por isso causa certo estranhamento o título que Lacan reservara para seu escrito ‘Kant com Sade’ (o sublinhado é nosso). Entre o ‘direito irrestrito ao gozo’ e ‘A Razão pura’ como poderia vir a se estabelecer uma convergência sendo um, irrestrito, e o outro, expressão suposta de uma lei universal? O que ambos poderiam ter em comum? É somente avançar uma palavra no enunciado de cada um, colocando o acento na segunda e não em sua antecedente, para encontrarmos a resposta: ‘gozo’ conjuga de maravilhas com ‘razão pura’ com a simples condição (plenamente cumprida por Kant) de que essa última seja ‘natural’ – tão natural quanto o gozo para Sade. O gozo da razão em Kant requer a crítica dela mesma no interior dela mesma (fundamento da tautologia científica contemporânea), enquanto a razão do gozo em Sade reside na dialética da oposição entre sadismo e masoquismo realizada no interior da extensão do gozo (fundamento do hedonismo contemporâneo). ” (p. 192-3)
Tal autor é Alfredo Jerusalinsky, conhecido psicanalista, com vários livros publicados, membro da Association Lacaniènne Internationale e Presidente Honorário de la Fundación Para el Estudio de los Problemas de la Infância, Argentina, e supervisor clínico do Centro Doutora Lydia Coriat, Buenos Aires, e do Instituto Primeira Infância do Desenvolvimento e da Desnutrição Infantil, Ceará; além de atuar como docente no Centro de Estudos Psicanalíticos de São Paulo (https://centropsicanalise.com.br/user/alfredo-jerusalinsky/), ministrando vários cursos e seminários.
Bem, quanto ao desfecho, se há algum, não tenho vocação para “spoiler” e o correto mesmo é que quem se interessar leia o “capítulo” e, no mais, o livro todo, porque, seguramente, vale a pena. Ou melhor dizer – vale!, posto que não se trata, em absoluto, de uma pena.
Há anos, no livro “Teia”, publiquei duas poesias que, talvez, se aninhem bem na curiosa e profunda dialética Kant-Sade e, então, exponho a julgamento:
Por fim, para não cometer uma deselegante metonímia, tomando um capítulo pelo todo do livro, faço o muito devido registro:
Dayse Stoklos Malucelli e Rosangela Vernizi (organizadoras). Psicanalistas do século XX: volume 1. São Paulo: Aller, 2019. 208 p. |
Em sua página web [https://www.allereditora.com.br/livro-psicanalistas-do-seculo-xx/] a editora diz:
“Sempre que pensamos em psicanalistas lembramos de nomes como Freud, Lacan, Klein, Winnicott. Mas a psicanálise só deu seus frutos devido ao trabalho cotidiano de muitos outros analistas que se dispuseram a escutar cada um de seus pacientes de forma única e, ainda mais, quebraram paradigmas e inventaram outros modos de saber fazer com o que puderam ouvir da produção inconsciente de cada sujeito.
Este primeiro volume de Psicanalistas do século XX registra a força de Lou Salomé, uma das mulheres pioneiras nesse campo, que desafiou costumes e dedicou-se com afinco ao seu ofício. Debruça-se sobre as importantes contribuições à saúde mental de Oury, Olievenstein, Maud Mannoni e Fédida com a coragem que cada um deles teve ao ousar fazer diferente. A obra também se atreve a trazer o pulsante texto sobre Guattari.
A América do Sul, celeiro do futuro da psicanálise, também está presente neste livro. Há dois capítulos dedicados a desbravadores pioneiros por nossas terras: Durval Marcondes, responsável pela primeira tradução de um texto freudiano para o português, e Oscar Masotta, que foi grande disseminador dos ensinamentos de Lacan por estas bandas.
Resta-nos uma tarefa: conhecer essas mulheres e esses homens e suas histórias.”
Desde já estou esperando pelo volume 2!