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16 de maio de 2017Dentre as muitas dificuldades de nossa civilização, uma das mais críticas tem sido a da definição do que é loucura. Filósofos, poetas, psicanalistas, escritores (como nosso grande Machado de Assis, no Alienista) e outros, já se debruçaram sobre o tema e o resultado foi um mosaico de opiniões e critérios todos eles díspares e com mais incertezas do que acertos.
Uma contribuição notável para o debate nos chegou há pouco tempo, não pelos saberes dos doutos, mas pela vivência de uma alma sensível e inteligente, que experimentou diferentes facetas de uma só e mesma realidade. Walter Farias é quem, pela ajuda literária de Daniel Navarro Sonim, nos ensina a repensar o assunto, nos ensina a duvidar e nossas convicções, nos expõe nossos preconceitos e, sobretudo, nos humaniza pela dimensão trágica e transcendente de sua experiência, que encontra ecos e repercussões em cada um de nós, posto sermos todos de uma mesma substância.
Como se lê na página da editora (http://www.terceironome.com.br/ocapabranca.html):
No livro O Capa-Branca, o jornalista Daniel Navarro Sonim reuniu, a partir de manuscritos e entrevistas, as experiências de vida de Walter Farias, ex-funcionário que se transformou em paciente, na década de 1970, do Complexo Psiquiátrico do Juquery, em Franco da Rocha, na Região Metropolitana de São Paulo. Números oficiais dão conta que naquela época o local chegou a abrigar quase o dobro das 9 mil pessoas que tinha condição de comportar.
Aprovado no concurso público para atendente de enfermagem, Walter é designado para cuidar de pacientes acamados ou que perambulam, alheios à realidade, pelos corredores das clínicas do Hospital Psiquiátrico. A vida do protagonista de O Capa-Branca começa a tomar outro rumo depois da repentina transferência para o Manicômio Judiciário, onde ele convive com pacientes que cometeram crimes, alguns deles violentos e com requintes de crueldade.
A rotina no manicômio abala sua sanidade e o obriga a abandonar sua capa branca, o jaleco que os funcionários vestiam para trabalhar. Dali em diante, a única alternativa é a internação. Ao se tornar mais um paciente do Juquery, passa a sentir na pele os horrores daquele lugar.
Na visão de Walter Farias, que hoje está aposentado, as pessoas acreditam que ele tenha se tornado esquisito depois da convivência por sete anos com os doentes. “Eu aposto que muita gente nem imagina quais são os verdadeiros limites da loucura. Mas será que a mente humana possui limites?”, desafia Walter.
Na noite de 25 de abril, na Livraria Zaccara (rua Cardoso de Almeida, 1356, Perdizes, São Paulo) os autores da obra fizeram uma apresentação-debate de sua contribuição para uma plateia interessada e participativa. Claro resultou que a dimensão da loucura, que em algum grau nos habita a todos, está para além dos genes, do soma, da carne e da farmacologia, e demanda de nós uma atitude muito mais conciliatória e sábia do que temos praticado até aqui.
Ulisses Caballi Filho e Fausto Azevedo estiveram presentes ao evento.