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19 de agosto de 2019Tecnologias de produção do eu (CONSIDERAÇÕES PRIMEIRAS)
18 de setembro de 2019“A Tabacaria”, produção austro-germânica (2018), com o título original de Der Trafikant, traz a história do relacionamento do jovem Franz (Simon Morzé), com ninguém menos do que Sigmund Freud (Bruno Ganz). Filme dirigido por Nikolaus Leytner (62 anos), se baseia no best-seller internacional de Robert Seethaler, The Tabacconist (2012)1.
A trama (117 minutos) segue Franz, de 17 anos de idade, que, após a morte do pai, chega a Viena para servir como aprendiz numa tabacaria na qual conhece o famoso professor Sigmund Freud, um cliente frequente do estabelecimento.
Franz se apaixonará por Anezka, uma dançarina, e apelará a conselhos de Freud, que, mesmo sendo o notável psicanalista, confessa que a mulher é-lhe um grande mistério, sobretudo nos assuntos de romance.
No transcorrer da história, aumenta quase insuportavelmente a tensão política e o drama social decorrente, em função da ameaça nazista e da real chegada dos soldados alemães à Viena. Neste processo, o jovem, sua amada e Freud se perdem na confusão da cidade e precisarão decidir entre o permanecer e o abandonar a capital austríaca.
O filme, apoiado por investidores alemães, foi rodado na Bavária, onde se ergueram a cidade e a tabacaria em estúdios da Bavaria Film (https://www.bavaria-film.de/newsroom/1692-der-trafikant-setbesuch-der-muenchner-strasse). As cenas do lago foram feitas nas montanhas da do Tirol italiano. Trata-se do primeiro dos sete longas-metragens do diretor austríaco Nikolaus Leytner a chegar ao Brasil. Segundo ele próprio:
Eu ouvi uma resenha no rádio, e no dia em que foi publicado eu comprei o livro; li imediatamente e tive a sensação de que seria uma ótima história para um filme. O que me deixou ainda mais feliz quando me pediram para fazer a adaptação (…) Robert Seethaler teve a brilhante idéia de inventar uma amizade entre o jovem e o mundialmente famoso Sigmund Freud, que não está registrada, mas permanece inteiramente plausível. (…) é sempre minha intenção transmitir o aspecto essencial de um romance ou tocar em uma versão cinematográfica. No que diz respeito aos acontecimentos da história, ficamos muito próximos do original. Mas também inventei algumas coisas, como a maneira como Franz gosta de sonhar e a visualização de alguns desses sonhos. Eu considero esses elementos do filme como formas de tornar mais fácil contar a história da perspectiva de Franz. É sempre um processo de deixar algumas coisas e adicionar outras.
No endereço https://www.cineenserio.com/el-vendedor-de-tabaco-cuando-el-libro-es-mejor/ podem ser encontrados diversos comentários a respeito do filme, como o de José Luis Sánchez Noriega, historiador do cinema e crítico cinematográfico espanhol (https://es.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Luis_S%C3%A1nchez_Noriega) transcrito a seguir:
Sin duda, la novela con el mismo título en español, El vendedor de tabaco, —distinto de Der trafikant original y, desde luego, más lógico como El estanquero— proporciona al público una experiencia estética de mayor convicción y envergadura. Porque en la película, aunque no carece de interés, la narración esbozada, un tanto deshilachada, no tiene la misma fuerza del texto literario, por más que el director haya intentado mantener el tono del original: “La idea es conseguir encontrar un equilibrio entre la observación precisa del ser humano, una visión más poética y también un balance entre la ligereza y la tragedia. Estos elementos, tan equilibrados en la novela, siguen siendo una referencia importante para la adaptación cinematográfica”.
La historia está focalizada en la figura de Franz, un joven de 17 años, que vive con sus padres en una zona de montaña austríaca, junto al lago Attersee. La repentina e inexplicada muerte del padre hace que la madre tome la decisión de mandar a Franz a buscarse la vida en Viena, donde se emplea en un estanco, propiedad del viejo amigo Otto. La transición a la vida adulta en un chico de pueblo llegado a la ciudad no es fácil: la amistad con Otto y las confidencias con Sigmund Freud, cliente del estanco, apenas compensan las inquietudes del amor de Anezka, una chica de Bohemia mucho más experimentada. Pero a Franz la existencia se le complica con el ascenso del nazismo y la anexión de Austria al III Reich.
El relato viene apuntalado por las postales que Franz escribe a su madre o recibe de ella, y que reflejan el proceso de aprendizaje del joven. Las pesadillas y sueños quedan conjurados con su puesta por escrito y publicación en el escaparate del estanco. Desprende cierta ternura este chico con sus miedos (secuencia inicial en que una tormenta lo sorprende en el lago), su enamoramiento, su admiración por adultos cultivados y su búsqueda inútil de la felicidad. Sus esperanzas quedarán frustradas porque, en buena medida, representa a una generación de entreguerras heredera de las heridas de la Gran Guerra (mutilación de Otto) y abocada al abismo con la barbarie nazi.
El director, Nikolaus Leytner, pone su experimentado oficio en audiovisuales para televisión al servicio de un relato construido con delicadeza en la ambientación y buenos resultados en la dirección de actores. Tiene un papel excepcional Bruno Ganz, no solo porque El vendedor de tabaco es una obra póstuma, sino porque el intérprete suizo llegó a ese punto de madurez en que, con la mínima composición actoral, puede encarnar a cualquier personaje. Aquí es un doctor Freud irreprochable; y el personaje no resulta extemporáneo sino que tiene su función en la historia personal del protagonista.
Segundo o que vem sendo divulgado, o lançamento no Brasil está previsto para o próximo dia 5 de setembro. Aproveitemos!
Uma questão que provoca a todos nós da Língua Portuguesa, e amantes do cinema e de Pessoa, é a imediata remissão do título em português que escolheram para o filme (mas também aproximado no espanhol: El vendedor de tabaco) ao poema inesquecível do Fernando, na pele do Álvaro de Campos, Tabacaria2. Não encontrei nada a respeito de uma possível conexão entre ambos, mas fica aí um quê de perturbação, porque para quem lê e relê a obra de Pessoa e heteronímia é sempre francamente evidente sua intercomunicação profunda com o universo psi. Daí que… O homem saiu da Tabacaria (…) / Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica. / (O Dono da Tabacaria chegou à porta.) / Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. / Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo / Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Ver detalhes técnicos em:
https://www.imdb.com/title/tt7477068/?ref_=fn_tt_tt_1
Ver o trailer legendado em:
https://www.youtube.com/watch?v=kxjaGLXpq70
Referências:
[1] Em espanhol: El Vendedor de Tabaco, Editora Salamandra, 2019. 224p.
[2] Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). Ver em: http://arquivopessoa.net/textos/163.
2 Comments
texto muito bem escrito….nos deixa desejosos de ver o filme. Bastante interessante a relação com.o poeta Fernando Pessoa. Vamos lembrar que a poesia possibilita um destino pulsional criativo e, por que não dizer, saudável ao sujeito.
“Gostei muito da análise do filme e fiquei curiosa para assistir. Bastante interessante a relação com o poema de Fernando Pessoa, que, aliás, é belíssimo. Cabe lembrar que a poesia (assim como outras artes) é um destino criativo para as pulsões. Obrigada pela indicação do filme”.