[EVENTO] Livraria Zaccara | Livro O Capa Branca
11 de maio de 2017As Fatalidades (ou agora sei o porquê de não ganhar na mega-sena)
25 de maio de 2017Pode haver algo em comum entre São Vicente de Paulo, Charcot e Freud?
Sim é a resposta e o algo em comum é a firme determinação de aproximação pessoal com o outro.
São Vicente de Paulo (Pouy, 24 de abril de 1581 – Paris, 27 de setembro de 1660) não se recolheu à postura de apenas ajudar o pobre falando dele ou para ele, mas, pelo contrário, optou por viver com ele, aproximar-se mais do que empaticamente. Só assim, entendeu, seria possível conhecer sua experiência, seu universo, vontades, aceitações e revoltas.
Ver o filme Monsieur Vincent
Para conhecer mais da biografia:
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- Marie-Joëlle Guillaume. São Vicente de Paulo – Uma Biografia. São Paulo: Record, 2017. 518 p.
- http://vincentians.com/pt/biografia-de-sao-vicente-de-paulo/
Já Charcot (Jean-Martin Charcot, Paris, 29 de novembro de 1825 – Montsauche-les-Settons, 16 de agosto de 1893), totalmente imerso no positivismo materialista hegemônico de seu tempo, para tentar evidenciar o objeto do seu estudo, posto que a psicologia era mal vista pela crença científica dominante de então, escolheu estar proximamente envolvido com seus pacientes da Salpêtrière, porquê apenas assim poderia entender, catalogar e descrever os sintomas, esses sim objeto de estudo que permitiriam uma classificação nosológica das doenças do espírito.
Mais de Charcot:
http://jean-martincharcot.blogspot.com.br/
http://www.biusante.parisdescartes.fr/histoire/biographies/index.php?cle=4116
https://fr.wikipedia.org/wiki/Jean-Martin_Charcot
Freud, como bem sabemos, após a descoberta da cura pela fala e, desde aí, a fixação das raízes de seu método psicanalítico, escolheu e criou o setting e seu divã para, dessa forma, estar entre quatro paredes juntamente com o paciente, ouvindo-o e colocando totalmente sua atenção nesse outro.
Mais de “talking cure”:
Susan C. Vaughan. The Talking Cure. New York: Henry olt and Company, 1998. 224 p.
É dessa interação dinâmica, intensa e frequente entre analisando e psicanalista que diferentes resultados benéficos podem acontecer. Aí está o coração do processo, independente de uma escola de filiação, de uma linhagem e até da técnica. O clímax é viver e praticar em conjunto (um e o outro), partilhar experiências naquele aqui-agora.
Como finalização para essa nota, vale muito destacar a obra filosófica de Emmanuel Lévinas para com ela e com ele aprendermos um pouco mais e melhor a respeito da alteridade, esta como um contraponto para a tradição da subjetividade e o privilégio do ego na filosofia, sobretudo desde Descartes, diga-se, trazer a ética para frente da ontologia. Não podemos deixar de constatar no momento atual um certo exagero do eu e suas prerrogativas, do individualismo, o que, dentre outros resultados, leva ao distanciamento do outro e à dificuldade para que se o perceba, mais ainda, para que se aceite a possibilidade de sua existência. O desafio maior e o debate decorrente passa a ser então: Eu posso ter consciência do outro (como tenho de mim)? Se eu realmente construir o caminho para isso, deixarei de pensar, com minha subjetividade contundente, que gozo de plena humanidade enquanto o outro tem sempre uma humanidade parcial. Mas não será, todavia, que é o outro que (quem) me constitui? Poderia haver uma ética em que o princípio moral fosse, residisse no outro? Talvez uma realidade assim edificada nos trouxesse muito menos sofrimentos e patologias. Fica aqui esta tal conjectura como provocação.
Mais de Lévinas e de sua ética:
http://levinas.sdsu.edu/
http://www.levinas-society.org/NALS/Welcome.html
https://gtlevinas.com/