LAUDATO SI’ – Fausto Azevedo
4 de julho de 2018O que é letramento informacional e suas perspectivas no Brasil – Tempo Análise
7 de julho de 2018Realiza-se atualmente na cidade de São Paulo a Exposição ‘O Inquietante’ exibe obras sombrias na Verve Galeria (Ver: http://www.vervegaleria.com/).
Segundo o site da Verve Galeria, “As mais profundas inquietações da psique humana são o ponto de partida da exposição coletiva ‘O Inquietante’, inspirada nos conceitos propostos pela obra homônima do psicanalista Sigmund Freud (1856-1939). Sob a curadoria de Agnese Fabbiani e Ian Duarte Lucas, a mostra fica em cartaz na Verve Galeria, entre 8 de junho e 21 de julho, com visitação de terça a sexta-feira, das 10h às 19h, e aos sábados, das 11h às 17h, e entrada Catraca Livre. São apresentados 21 trabalhos (pinturas, esculturas, ilustrações, fotografias) dos artistas Farnese de Andrade, Flávio Cerqueira, Francisco Hurtz, Luciano Zanette, Luc Dubois, Monica Piloni, Tomoshige Kusuno, Walmor Corrêa e Wesley Duke Lee, que “buscam despertar no espectador uma reação para o sombrio e o estranho, para aquilo que mexe com as mais profundas inquietações do ser humano.”
Este texto de Freud, para nós no Brasil, encontra-se traduzido como “O Estranho”, nas obras completas da editora Imago:
FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição Standard brasileira / Sigmund Freud: com comentários e notas de James Strachey; em colaboração com Anna Freud; assistido por Alex Strachey e Alan Tyson; traduzido do Alemão e do inglês sob a direção geral de Jayme Salomão. – Rio de Janeiro: Imago 1996. Volume 17: Uma neurose infantil e outros trabalhos (1917 a 1918). O estranho. p. 237-276.
E como “O Inquietante”, na publicação da Companhia das Letras:
FREUD, Sigmund. Obras completas. Volume 14. História de uma neurose infantil (“O homem dos lobos”), Além do princípio do prazer e outros textos (1917-1920). [Tradução Paulo César de Souza]. São Paulo: Cia. das Letras, p. 247-283.
O estranho ou o inquietante é um conceito freudiano de obra de 1919 (Das Unheimliche), que aponta para algo (ou pessoa, ou impressão, fato ou situação), não propriamente misterioso, mas ‘estranhamente’ familiar, provocando um sentimento de angústia, confusão e estranhamento, que remonta àquilo que é desde há muito conhecido.
Na estética, o termo como conceito surge com E. T. A. Hoffmann (1776 – 1822) e na psiquiatria vem de 1906, com Ernst Jentsch: a incerteza intelectual sobre se um objeto animado, está realmente vivo, ou, ao contrário, se um objeto inanimado pode ser, de alguma forma, dotado de vida autônoma.
Em Das Unheimliche, Freud cuida do mal-estar provocado por uma ruptura na racionalidade tranquilizadora da vida quotidana. Em correspondência a Sándor Ferenczi, de 12 de maio de 1919, ele informa ter “desenterrado” um velho trabalho. A data da primeira versão do ensaio não é conhecida, todavia, pelas notas de rodapé, sugerem ser posterior à publicação de Totem e Tabu. Para Freud, o homem está num estágio de desenvolvimento em que superou as crenças animistas. São duas as categorias do estranho: (1) quando “acontece realmente em nossas vidas algo que parece confirmar as velhas e rejeitadas crenças”; (2) “provém de complexos infantis reprimidos”. Enquanto a primeira acontece quando vem à luz algo “superado”, a segunda se dá quando algo “reprimido” emerge e nos atinge.
Diz-nos Freud numa dada altura do texto:
O inquietante que se vivencia depende de condições muito mais simples, mas abrange casos muito menos numerosos. Creio que ele se enquadra plenamente em nossa tentativa de solução, que sempre remonta a algo reprimido, há muito tempo conhecido. [Vol. 14 da coleção da Cia. das Letras, p. 275.]
Unheimlich vem de Heim, que significa lar e confere uma noção de familiaridade, mas é também raiz da palavra Geheimnis, que pode ser traduzida como ‘segredo’, no sentido de algo que é da família ou que deve permanecer escondido. Em inglês, traduz-se Das Unheimliche como the uncanny (a estranheza), não sem relação com o conceito de Freud. “El sinistro”, na tradução espanhola, “l’inquiétante étrangeté” ou “l’inquiétante familiarité” ou “l’étrange familier”, no francês, ou “il perturbante”, no italiano, pode ser equivalido em português a “inquietante estranheza” ou “o estranhamente familiar”.
Lacan, em 1959, traz a palavra extimité (‘extimidade’), com a idéia de algo interior, inerente ao sujeito, mas ao mesmo tempo não reconhecido como tal, o que produz tensão e apreensão no sujeito.