Mais de Freud: Caso Elizabeth Von R. [Fragmento de la serie “Freud” BBC 1984. Dir.: Moira Armstrong.]
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1 de junho de 2018Há dois tipos de palavras: as proparoxítonas e o resto.
As proparoxítonas são o ápice da cadeia alimentar do léxico. Estão para as outras palavras assim como os mamíferos para os protozoários.
Se o idioma fosse um espetáculo, permaneceriam longe do público, fingindo que fogem dos fotógrafos e se achando o máximo.
As palavras mais pernósticas são sempre proparoxítonas. Das mais lânguidas às mais lúgubres. Das anônimas às célebres.
Para pronunciá-las, há que ter ânimo, falar com ímpeto, com todas as sílabas.
Sob qualquer ângulo, a proparoxítona tem mais crédito.
É inequívoca a diferença entre o arruaceiro e o vândalo.
O inclinado e o íngreme.
O irregular e o áspero.
O grosso e o ríspido.
O brejo e o pântano.
O quieto e o tímido.
Uma coisa é estar na ponta – outra, no vértice.
Uma coisa é estar no topo – outra, no ápice.
Uma coisa é ser fedido – outra é ser fétido.
É fácil ser valente, mas é árduo ser intrépido.
Ser artesão não é nada, perto de ser artífice.
Legal ser eleito Papa, mas bom mesmo é ser Pontífice.
(Este último parágrafo contém algo raríssimo: proparoxítonas que rimam. Porque elas se acham únicas, exóticas, esdrúxulas. As figuras mais antipáticas da gramática.)
Quer causar um impacto extraordinário? Elogie com proparoxítonas. É como se o elogio tivesse mais mérito, tocasse no mais íntimo.
O sujeito pode ser bom, competente, talentoso, inventivo – mas não há nada como ser considerado ótimo, magnífico.
O que você não conhece é só desconhecido.
O que você não tem a mínima ideia do que seja – aí já é uma incógnita.
Escapar sem maiores traumas é escapar ileso – tem que ter classe pra escapar incólume.
Ao centro qualquer um chega – poucos chegam ao âmago.
O desejo de ser proparoxítona é tão atávico que mesmo os vocábulos mais ordinários têm o privilégio (efêmero) de pertencer a essa família – ou não seriam chamados de oxítonas e paroxítonas. Não é o cúmulo?
Eduardo Affonso
Eduardo Affonso, nascido em Minas Gerais, arquiteto e “escritor nas horas mal pagas”. Trabalha no Rio de Janeiro e costuma se intitular um “psiquiteto”. Ver: http://www.eduardoaffonso.com.br/ .