Quatro volumes de manuscritos de Sigmund Freud
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O filósofo, psicoterapeuta e escritor John Gale, postou recentemente, em seu Linkedin, interessante notícia envolvendo Freud e uma de suas filhas.
“Em 2 de janeiro de 1920, Sophie Halberstadt-Freud morreu de gripe espanhola durante sua terceira gravidez. Freud e sua esposa não conseguiram ir até à filha porque não havia trens. Nos calcanhares da I Guerra Mundial, a epidemia também havia dizimado milhões em toda a Europa. 15.000 morreram só em Viena desde 1918. Não é por acaso que a partir de 1919 a morte tenha ocupado cada vez mais o pensamento de Freud e, conforme Fritz Wittels argumentou, haveria uma ligação entre a morte de Sophie e o ‘Além do princípio do prazer’ (1920).” A respeito, veja-se o fascinante artigo de Jacqueline Rose na London Review of Books, v. 42, n. 22. https://www.lrb.co.uk/the-paper/v42/n22/jacqueline-rose/to-die-one-s-own-death
Jacqueline Rose escreve:
Em sua “trajetória teórica – segundo Freud, uma das mais especulativas – ele se move entre a elegia e o tratado, entre a tristeza e a ciência: ‘Somos fortalecidos em nossa crença’, diz ele, ‘pelos escritos de nossos poetas’. Mas o que mais se destacou aqui para mim dessa vez foi a dimensão que parecia penetrar em seu pensamento com a morte de Sophie. Melhor a morte como uma companheira silenciosa do que uma morte que cai dos céus. Uma implacável lei da natureza é preferível a uma morte que deveria – poderia – não ter ocorrido. Sabemos que toda a escrita de Freud sai de seu mundo interior, mas não consigo pensar em nenhum outro momento em que ele coloque suas cartas psicológicas na mesa com tanta transparência. Nada pior do que a ideia da morte como parte de uma série de acidentes. Por meio da aleatoriedade implacável de suas mortes, as vítimas da pandemia e da guerra estão sendo privadas da essência da vida.”
Jacqueline Rose (1949, Londres), acadêmica britânica, professora de Humanidades no Birkbeck Institute, é conhecida por seu trabalho sobre a relação entre psicanálise, feminismo e literatura. Ela se formou no St Hilda’s College, em Oxford, obteve mestrado na Sorbonne, em Paris, e doutorado na Universidade de Londres. Entre suas importantes obras, citam-se: The haunting of Sylvia Plath. London: Virago (1991); Why war?: psychoanalysis, politics, and the return to Melanie Klein. (editor) Oxford, UK Cambridge, Mass., USA: B. Blackwell (1993); “Feminine sexuality”, in Jackson, Stevi; Scott, Sue (eds.), Feminism and sexuality: a reader, New York: Columbia University Press (1996), p. 74–78; On not being able to sleep: psychoanalysis and the modern world. London: Vintage (2004); The question of Zion. Princeton, New Jersey: Princeton University Press (2005); Women in dark times. London: Bloomsbury (2014); Mothers: An essay on love and cruelty. London: Faber & Faber (2018) (https://london.ac.uk/jacqueline-rose).