A relação de Freud com seu judaísmo
6 de fevereiro de 2020O Freud árabe
5 de março de 2020RELIGIÃO, FILOSOFIA, PSICANÁLISE E POESIA EM PROCURA
Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta coisa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós…
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas…
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.
Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.
Fernando Pessoa, 19/novembro/1935 – 11 dias antes de sua morte
Fernando Pessoa. Obra poética. Vol. Único. (Cancioneiro).
Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1981. p. 120.
Cansa ser, sentir dói, pensar destrói. A dor de existir e de estar sempre dolorosamente consciente de sua própria consciência…1 O grande pensador e poeta sabia disso melhor que todos, e de tanto nos ensinava. De fato, chega a ser exaustivo nos tempos presentes insistir em empregar, talvez, a maior de todas as nossas capacidades e dádivas, que é a do pensamento crítico, racional, analítico, prospectivo, para fins de se estar não só cônscio de si e do que verdadeiramente ocorre, mas, sobretudo, preparado e sempre aberto a atravessar rios, até contra a corrente, despenhadeiros e abismos, com o propósito de se atingir, sempre e a cada tempo, um patamar além em nossa evolução mental, social, ética e humana. Estes nossos tempos, definitivamente, não querem isso, e os poderes que nele atuam sob tal propósito, mais e mais farão para que nos alijemos do exercício do pensar, que em última instância é o exercício e a posse de nossa liberdade. A indução e a padronização inquestionáveis de opiniões, comportamentos e motivações são o ingrediente não-máquinas e não-capital tão essencial quanto estes para que se assegure um capitalismo sempre e sempre de máximos crescentes de produção e de consumo, esses dois irmãos siameses…
No fio dos séculos, em todas as épocas, seguramente tem o ser humano buscado ao limite conhecer a si tanto quanto intenta conhecer o mundo em que vive. Ele almeja intensamente conhecer esses dois mundos: o interior e o exterior.
Quanto ao primeiro, todas as artes, religiões, saberes e ciências têm prestado sua colaboração – mas nenhum desfecho alvissareiro ainda se deu, vale dizer, ainda prosseguimos no desejo de auferir um autoconhecimento pleno e inteiro, o que sempre nos escapa. Quanto ao segundo, com o que já se sabe (nem muito, perto do que há de haver…), a sensação é realmente de que parece estar se formando e consolidando um hiato abissal entre ele e o outro…
Claro, é preciso pelo menos um método, e é bem disto que se trata, para sondarmos nosso interior. A dificuldade, uma delas, como já apontado por muitos outros, é sermos, ao mesmo tempo, observadores e observados, é querermos objetivamente buscar o autoconhecimento tendo como ferranenta para isso a nossa subjetividade. A empreitada não é nada fácil, mormente nos tempos atuais, com tantos e potentes apelos/estímulos para que permaneçamos fora de “nossa casa”. Diferentes interessados, de religiosos a filósofos, de antropólogos a psicanalistas, de místicos a neurologistas, de poetas a artistas, têm dado contribuições, seja por meio de templos, oráculos e laboratórios, seja de práticas pessoais exemplares, retiros e condutas…
Conhecer-se é desbastar as arestas e desamarrar os nós que nos mutilam e nos prendem fora de nós. Trata-se de uma tarefa de cunho eminentemente pessoal, daí a grande dificuldade sempre, uma vez que exige de um lado determinação, a famosa força de vontade (ou “apetite”, como disse São Tomás de Aquino2), acentuado que a assunção de nossos desejos de hoje conformarão nossa realidade do amanhã (daí a enorme importância de bem os conhecermos); de outro, um certo grau de capacidade intelectual e de boas informações. Uma das amarras, que é da profunda ordem interior de cada qual e ficou bem iluminada a partir dos corajosos e vigorosos trabalhos de Sigmund Freud é aquela que se refere a todo universo de nosso psiquismo: olhá-lo com total clareza, atravessando as camadas de véus com que vamos recobrindo/disfarçando nosso mais profundo psiquismo é bastante difícil e frequentemente doloroso. Obrigo-me a lembrar aqui do Livro do Desassossego, de Bernardo Soares (Fernando Pessoa) que tão bem descreve a dor e o sofrimento de, valentemente, buscar-se e interpretar-se, solitariamente, no mais profundo de si. O desassossego em Bernardo como uma fulguração literária do inquietante em Freud, mas matérias de mesma substância…
A psique é aquela instância dentro de nós que vai sendo construída desde e a partir do nosso nascimento, sem que objetivamente tomemos parte dessa construção inicial, e que, constituída, nos influenciará continuamente, quer queiramos quer não. A palavra vem do grego antigo, com o sentido original de sopro, respiração, e era para aquele povo uma idéia que caracterizava o auto, o “si mesmo”. Assim, grosso modo, equivale à nossa atual noção de mente, alma. Com Lúcio Apuleio (filósofo romano, século II) o termo ganha um outro significado, como em Eros e Psique 3 (Metamorphoseon Libri XI – “Onze livros de metamorfose”, livros IV, V e VI).
Mas o que é este autoconhecimento, de que tipo de conhecimento que se está falando? Fray Nelson Medina nos ajuda:
“La respuesta es: el conocimiento de sí mismo. Sin este conocimiento no logramos comprender el contexto vital que hace nacer eso que llamamos ‘experiencia’, que a su vez es como un requisito para la ‘sabiduría’. La experiencia es un saber que requiere de contexto, y el contexto que nos lleva a ese saber es conocernos a nosotros mismos.
Se puede decir que hay muchos conocimientos exteriores pero que este otro es un conocimiento interior porque no se vuelca sobre las cosas ni sobre las vidas de otros ni tampoco sobre el perjuicio o beneficio inmediato de las acciones propias o ajenas. Pero tampoco es un simple mirar hacia adentro, como si uno tomara una cámara de video y en lugar de enfocarla hacia la calle la enfocara hacia la sala de la casa en que se encuentra. Es algo más profundo que iremos descubriendo poco a poco.”4
Indo diretamente ao ponto, Santa Catarina, no “Diálogo”, explicita que Jesus é que revela que o passo primeiro e fundamental para se alcançar a Verdade é o conhecimento de si. Leia-se:
“O Caminho para atingir o conhecimento verdadeiro e a experiência do meu ser – Vida eterna que eu sou – é este: nunca abandones o autoconhecimento! Ao desceres para o vale da humildade, reconhecer-me-ás em ti, e de tal conhecimento receberás tudo aquilo de que necessitas.”5
Em algumas oportunidades anteriores arrisquei apresentar uma pequena contribuição ao debate6. Desta vez, tento aprender um pouco mais com os ensinamentos de uma santa de grande respeito na tradição católica: Santa Catarina de Siena.
Catarina Benincasa
Catarina (Caterina em italiano, da palavra grega Khatarios, ou Ekaterina – εκατερινα, equivalente em nosso portugues a “pura”, “limpa”, “imaculada”,mesma origem da palavra catarse) Benincasa nasceu em Siena (região da Toscana, Itália) em 25 de março de 1347 (há polêmica quanto à data: um estudo feito por R. Fawtier, em 1921, retrocede de dez a quinze anos seu nascimento, fixando-o entre 1332 e 1337) e faleceu em Roma, a 29 de abril de 1380. Teve uma irmã gemea, Joana (Giovanna), que, todavia, não sobreviveu ao batismo. Criança feliz, ganhou da família um carinhoso apelido, “Eufrosina”, palavra grega para alegria e nome de uma das santas cristãs mais antigas, Santa Eufrosina.
Catarina é uma notável mística e escritora da Igreja. Permanece bastante respeitada, seja por suas obras espirituais, seja pela intrepidez política: uma mulher que, em pleno século XIV, ousou mostrar a verdade ao poder, influenciando a política e a história de seu tempo. Filósofa escolástica e teóloga do século XIV, proclamada Doutora da Igreja (3 de outubro de 1970, papa Paulo VI), teve importante participação na luta pelo retorno do papado de Gregório XI para Roma, pois a sede da Igreja Católica havia se fixado em Avignon (cidade da Provença, França). Ela desempenhou igualmente notável atividade no processo de restauração da paz entre as cidades-estado italianas.
Foi declarada copadroeira de Roma (13 de abril de 1866, papa Pio IX). Juntamente com São Francisco de Assis é padroeira da Itália (18 de junho de 1866). É, ainda, uma das seis padroeiras da Europa (1 de outubro de 1999, Papa João Paulo II – os outros são São Bento, Santos Cirilo & Metódio, Santa Brígida da Suécia e Santa Teresa Benedita da Cruz – Edith Stein).
Aos cinco ou seis anos, Catarina teve a primeira de suas visões de Jesus Cristo, como revelou seu confessor, diretor espiritual e, posteriormente, biógrafo, Raimundo de Cápua, O.P. (Ordem dos Pregadores). A menina, com apenas sete anos de idade, decide dedicar sua vida a Deus.
Após a morte da irmã mais velha, ela, com dezesseis anos, foi pressionada pelos pais a se casar com o cunhado viúvo. Oposta à idéia, mergulha num cerrado jejum, prática aprendida com a irmã falecida, a qual conseguia muitas conquistas por tal meio. Depois disso, ela corta o cabelo para protestar contra a constante pressão da mãe para que melhorasse a aparência a fim de atrair um bom marido. Cortar curtos os cabelos significava como que recusar os traços atrativos femininos e entregar-se a uma vida com Cristo.
Um dado significativo é que Catarina, na sua adolescência, formatara um método para enfrentar algum problema, que era construir mentalmente uma cela de onde jamais pudesse escapar. Em tal cela ela fez de seu pai uma representação de Cristo, de sua mãe, a Virgem Maria, e de seus irmãos, os apóstolos… Assim, servir humildemente à sua família foi, para ela, a chance de crescimento espiritual e, com tal estratégia logrou resistir à tradição do casamento e da maternidade e optar por uma vida ativa e piedosa fora do claustro dos conventos, adotando, contudo, o modelo dos dominicanos. Posteriormente, tornou-se freira.
Aos vinte e um anos, Catarina experimentou aquilo que relatou nas cartas como um “casamento místico” com Jesus, fato que se tornaria popular na arte cristã com o nome de “Casamento Místico de Santa Catarina” (igualmente como com Santa Catarina de Alexandria).
No casamento, Catarina recebe de Crisro e passa a usar, porém visível apenas para ela, um anel. Há uma acalorada polêmica a respeito desse anel, indo desde uma jóia com pérolas e um diamanate até a ser o prepúcio resultante da circuncisão do Jesus quando recém nascido. Acentuando o quanto o casamento era não só uma fusão espiritual, mas também física com Cristo, “Catarina recebeu não um anel de ouro e joias que seu biógrafo relata em sua versão atenuada, mas o anel do prepúcio de Cristo”.[i] O Papa Bento XVI aludiu ao relacionamento profundo e místico de Santa Catarina com Jesus: “Em uma visão que jamais se apagou do coração e da mente de Catarina, Nosso Senhor apresentou-a a Jesus, que lhe deu um esplêndido anel de ouro, dizendo: ‘Eu, teu Criador e Salvador, esposo-te na fé, que conservarás sempre pura, até quando vieres celebrar comigo no céu as tuas núpcias eternas’ (Raimundo de Cápua, S. Caterina da Siena, Legenda maior, n. 115, Siena, 1998). Aquele anel foi visível somente para ela.”8
No seio das tensões sociais em Siena, Catarina viajou pela primeira vez para Florença (1374), para ser entrevistada pelas autoridades dominicanas no Capítulo Geral que se realizou em maio, pois que lhe eram imputadas certas acusações. A ausência de evidências a absolveu e ela foi considerada suficientemente ortodoxa em sua fé e práticas.
Em Pisa, 1375, Catarina usou sua determinação para impedir que a cidade, e também Lucca, se juntassem às forças hostis ao Papa, que na época vinham ganhando força. Foi em Pisa, em 1375, conforme Raimundo de Capua, que Catarina obtém seus estigmas (mãos, peito, pés), os quais serão visíveis apenas para ela, em virtude de um seu pedido a Cristo.
Além de viajar constantemente, longas caminhadas a pé, Catarina também ditava cartas, centenas, para defender suas idéias, enviando-as a autoridades e homens e mulheres, como, por exemplo, para propugnar pela volta do papado a Roma.
Em 1377, Catarina funda um mosteiro de estrita observância para mulheres, fora da cidade de Siena, na antiga fortaleza de Belcaro. No restante daquele ano permanece em Rocca d’Orcia (a 35 quilômetros de Siena), numa missão de paz e pregação, tempo no qual ela teve uma nova experiência espiritual, que a levou a redigir seu “Diálogo”.
Após o “Cisma do Ocidente”, o novo Papa, Urbano VI, em novembro de 1378, chama Catarina a Roma e ela permanece na corte papal trabalhando pelo convencimento de nobres e cardeais da legitimidade deste Papa romano, pessoalmente ou servindo-se de suas cartas. Viveu na Piazza di Santa Chiara numa casa até hoje conhecida como a Casa di Santa Caterina.
O Papa Pio II, também nascido em Siena, canonizou Catarina em 29 de junho de 1461.
Antropologia e Teologia de Catarina
As fontes originais primárias que nos trouxeram os trabalhos, as realizações, modo de ser, de pensar e ensinamentos de Santa Catarina de Siena são o “Diálogo”, suas quase quatrocentas cartas e as orações.9
O “Diálogo”, ou melhor, o “O Diálogo da Providência Divina”, surgido entre outubro de 1377 (provável) e novembro de 1938, foi, em sua maior parte, segundo contemporâneos seus, ditado por ela (na língua da Toscana, a materna) ao tempo em que vivenciava seus êxtases. Acredita-se que, depois, ela tenha reeditado várias passagens do texto. É uma conversa entre Deus e uma alma que a Ele ascende (ela própria). Suas intervenções são breves, objetivas e exatas, enquanto as respostas Dele são longas e desenvolvidas, substanciando mesmo uma Teologia. A respeito do Diálogo, nos ensina Sigrid Undset:
“Catarina chamava à sua obra simplesmente de ‘livro’ ou de ‘meu livro’. Foi Raimundo a conferir-lhe o título de ‘Diálogo’. A primeira tradução para o latim, executada por Gano Guidini e Stefano Maconi, fôra intitulada pelos tradutores como Livro da Ciência Divina. Desde então, numerosas transcrições e edições impressas têm sido publicadas em diversos idiomas, sob denominações variadas. Tôda razão tinha o padre Hurtaud ao propor conferir à sua tradução francesa o título de Livro da .Misericórdia. Realmente, a idéia-mestra que transparece, sob a variada caudal de idéias, nesses colóquios entre o Pai celestial e aquela a quem designa como Sua filha muito cara, é a da Fé na misericórdia do Senhor. Com o coração dilacerado de piedade, Catarina implora a misericórdia divina para êste mundo assolado pelo pecado, para os cristãos, para os pagãos e para os incrédulos. Ao final, o Pai Celeste resume em algumas frases tudo quanto foi dito à Sua filha, e acrescenta : ‘Prometi que usaria de misericórdia para com o mundo, para que vejas que sou, principalmente, Misericórdia.’ ”10
As cartas são classificadas como uma das grandes obras da literatura toscana primitiva. Muitas delas foram ditadas, apesar de, em 1377, a própria Catarina ter aprendido a escrever, o que, segundo relatos, foi um fato miraculoso, pois ela não havia sido alfabetizada quando criança. Chegaram até nós 382 cartas. São não só reflexões e ensinamentos seus, mas, também conclamações ao dever e à ação, à conversão, etc. Nas cartas ao Papa, ela, muitas vezes, chama-o, de forma afetiva, por “papa” (“papai”), em vez da formalidade do “Sua Santidade”. Cartas foram dirigidas ainda a seus vários confessores (incluindo seu diretor espiritual Raimundo de Cápua), aos reis da França, da Hungria e de Nápoles, a membros da família Visconti (de Milão), ao mercenário John Hawkwood, e a numerosas figuras religiosas. Cerca de um terço das cartas endereçavam-se a mulheres, denotando o quanto a Santa acreditava no potencial feminino e sua capacidade de mobilização e atuação social e política.
As orações e solilóquios (conversa em voz alta, voltada para si, um falar consigo, examinando de forma lógica o que se passa em seu espírito, em sua consciência; uma oração dirigida a si) de Santa Catarina, num total de 26, a maioria produzida nos últimos dezoito meses de sua vida, também vieram até a nós. São preces, súplicas, meditações, oferecimentos, etc., que ela faz a Cristo e a Maria sua mãe, a Deus e ao Espírito Santo.
A Teologia de Catarina é casta, profunda e rica, e basicamente se concentra no Diálogo, não sendo sua linguagem de ortodoxia teológica, pelo contrário, emprega muitas imagens e metáforas explicativas. Farei aqui uma breve delimitação do todo para enfocar apenas as questões relativas ao conhecimento de si.
Registro, numa rapidíssima sequência, que, para ela, o conhecimento de si (igual ao conhecimento da consciência, conhecimento do eu verdadeiro e da verdade do eu; de fato, o que é cada um de nós perante a Deus, o conhecimento de si em Deus; portanto, para ela, essa busca vai muito além de uma estratégia psicológica, por ter um destino último, e nesse passo ela cria um pensamento de raríssima beleza, algo como “Quem está vivendo minha vida? Quem é meu Senhor?”, perguntas que, fora do contexto religioso, nos remetem de imediato a Hegel, a Nietzsche, a Heidegger, a Freud!) só pode ser alcançado – ou deve atribuir-se – a uma luz divina. A busca do conhecimento de si, via iluminação divina, purifica as manchas da alma; leva-nos a provar a verdade eterna; “humilha” o homem e o faz conhecer seu não-ser aí nele mesmo; renova e fortalece o amor próprio; conhecendo-nos mais, maiores são as chances de nos aproximarmos – em conhecimento – de Deus; faz o homem conhecer a virtude e a virtude vir a ele; apazigua tempos de tentação; o conhecimento de si deve ser “temperado” com o conhecimento de Deus. Ora, em que pese a forte tinta da religiosidade presente na escrita catariniana, se a miramos momentaneamente por fora de tal contexto religioso, captamos nitidamente uma essência que se aplica em cheio ao modo de pensar mais contemporâneo da filosofia, da psicanálise e da ciência, no sentido de que é só com a mais profunda compreensão de si e dos (nossos) mecanismos internos de operação mental que o ser humano que somos hoje pode, minimamente, querer aspirar a uma vida independente, não repetitiva em seus erros e pacífica no quanto cabível. Estamos sob o jugo de uma ferrenha disputa entre, de um lado, as forças que pretendem nos obrigar a um raciocínio/comportamento de manada, e, de outro lado, a imperiosa necessidade de vôo liberto, tanto quanto possa insubmisso, anárquico até e independente.
Já o antes referido Fernando Pessoa, pelos idos de 1917, sem ter lido Freud que se saiba (mas sempre ambos muito próximos11), com seu gênio nos descrevia essa luta titânica que convulsiona nosso interior mais recôndito, e na qual sempre nos metemos a fim de conferir quem é que é de fato o dono de nossa casa, o mandante de nossos desejos e atos:
“Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.
Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.
E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão nocturna que me guia.
Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.”
14-3-1917. Fernando Pessoa. Poesias. (Nota explicativa de João G. Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). p. 81.
Santa Catarina está preocupada com o bem-estar do homem nessa vida terrena, com seus acertos, virtudes, realizações e felicidade. Nesse sentido, entende que tal estado só pode ser verdadeiramente alcançado por meio de sua união com Deus. A alegria, a plenitude do homem estão em seu encontro com o Senhor. Ora, precisa o homem, então, trilhar o caminho que o leve lá, ou seja, ao conhecimernto de si e daí a Deus, superando os muitos obstáculos que se apresentam em tal jornada, por exemplo (dentre outros), aqueles que são introjetados e atuam desde fora: dificuldades como a imaturidade, a ignorância, os erros que se comete; e os que ganham curso e repercussão interior: o cinismo, o desespero. Assim nos fala Sigrid Undset:
“Hoje podia perceber o significado destas palavras ditas por Aquêle que é a própria Verdade. O reino de Deus em nós – isto significa que os dons do Espírito Santo se derramam sôbre nós, desenvolvendo nossas aptidões naturais, arrazando os obstáculos que nos chegam de fora e aquêles que vêm de nossa natureza íntima.”12 (Grifo meu.)
Outros obstáculos de gênese, de fato, mais comumente interna, conjunto de certas miudezas, que se formam e agem dentro da própria “casa” de cada qual, e que poderíamos perceber como bem do seu plano psíquico, mandatários psicológicos, mas equívocos, são: retaliação ou desforra e exibição de conquistas (aquilo que se fará quando adulto, o “script” pessoal, para compensar os males que se sofreu ou as faltas e depreciações que se experimentou em criança); investimentos afetivos, isto é, barganhar compensações afetivas pela doação, ou mesmo compra dissimulada de determinados tipos de favores ou aceitação; medos e seu antídoto mais frequente, que é a acumulação: o medo de qualquer forma de escassez conduz a pessoa a acumular seja o que for – um medo permanentemente operando é o motor da angústia, que, para que o ser sobreviva, precisará se dissipar, fechando o circuito em direção à acumulaçao e/ou consumo; necessidades (desejos) percebidas como intensas, urgentes e imediatas e que precisam ser aplacadas; insegurança, que motiva a pessoa a procurar repetida e insistentemente a aprovação de terceiros para seus planos e atos.
Conhecer-se é “atravessar a ponte” para dentro de sua própria casa, é “entrar” em si, em sua história, com seus dramas e senões, superando todos os entraves anteriormente relacionados, e, para Santa Catarina a ponte (uma das mais vigorosas imagens de sua doutrina cristã) que permite ultrapassar o rio dos pecados é representada por Cristo. É ele a ponte13 a nos levar da margem do rio caracterizada pelo mundano (desconhecimento de si, despercepção do outro, valores alheios, cobiça, luxúria, plêiade de seduções prejudiciais tão ostensivamente em voga no atual momento histórico, sobretudo pelo ininterrupto acinte da mídia e dos interesses do capitalismo “des-almado” que insistem em desviar, em distrair o ser humano de preocupações críticas e reflexões superiores) para a margem referenciada como a do amor.
Esse jogo eu-dentro de mim / eu-fora de mim é belissimamente revelado por Santo Agostinho nas Confissões, quando diz:
“Ai de mim, por que degraus fui descendo até a profundidade do abismo, exaurido e devorado pela falta de verdade quando te buscava! E tudo isso, meu Deus – a quem me confesso porque te compadeceste de mim quando ainda não te conhecia – tudo por buscar-te, não com a inteligência – com a qual quiseste que eu fosse superior aos animais – mas com os sentidos da carne. E tu estavas dentro de mim, mais profundo do que o que em mim existe de mais íntimo, e mais elevado do que o que em mim existe de mais alto.” 14
É de se justapor que, de fato, se o Senhor estava dentro dele e ele não o percebia era, então, porque ele próprio estava fora, derramado sobre as “coisas” do mundo.
Tal jogo de posições dentro/fora se instala não só nesse apontado aspecto religioso (lembremo-nos, também, da situação, por exemplo, da confissão na igreja católica: o lugar do confessor dentro do confessionário – o “cartório seguro” do Machado de Assis no Dom Casmurro15 –; o lugar do fiel que se confessa fora), mas também na prática da psicanálise freudiana (o diálogo divã-poltrona…), tanto quanto na relação do poeta consigo mesmo em seu texto. Na psicanálise, psicanalista e analisante têm cada qual o seu lugar, sua posição. Se a do analisante é aquela de quem traz/precisa trazer para a cena toda sua subjetividade, a do psicanalista, sua posição/função é a de se destituir de sua subjetividade, vale dizer, sua função não se ancora na pessoa (ser) que ele também é, mas, tanto quanto possivel seja, na destituição desse ser, uma espécie de des-ser, de não-ser naquele momento de sessão, como se fosse o não-ser do fiel diante de um fenômeno maior de vida que se manifesta ali, naquele preciso instante, o qual sinto por completo, mas não consigo apreender. Na margem do rio do analisante, ele “fitando” o rio do inconsciente, se logra levar a êxito seu processo de análise, produz também uma destituição, subjetiva, porque ele reelaborou, reformulou, ressignificou, metaforizou sua carga inconsciente, descristalizando seu(s) sintoma(s) e a eles dando vazão (parto, maiêutica pessoal), suscitando, assim, possibilidades de um novo ver/viver; em suma, analista e analisante instados a se confundirem com o poder de falar e o de escutar, numa relação única e indefinível, com uma expectativa telelológica esculpida (inscrita diriam alguns) num desejo de outro futuro. E o poeta o faz tanto quanto no exercício de sua poesia pensando/falando-escrevendo seu sentir, sentindo/escrevendo seu pensar, num solilóquio atemporal, num transe pessoal, num parto de inspiração e coragem, que põe a nu e em nova vida aquele que entrara solitário e perplexo no espaço do primeiro verso do poema (primeira sessão, primeira confissão…); a poesia sendo ela mesma também uma ponte simbólica (como as artes em geral) de acesso ao interior de si.
Esclareça-se resumidamente algo sobre os mencionados obstáculos, seguindo o pensamento de Nelson Medina16.
A imaturidade, que numa pessoa se anuncia fortemente quando ela finge que a responsabilidade sobre a própria vida recai sempre em cima de outros ombros, de outras pessoas, geralmente do passado, como o pai, a mãe, etc. E as pessoas, projetando então tudo para fora de si, esperam que o mundo exterior, ele se modifique, configurando o arranjo de fatores necessário para que, então, eu possa avançar e conquistar minha (alguma) maturidade (matéria tão frequentemente constatada na clínica psicanalítica). Claro está que, aqui, falar imaturidade é o mesmo que dizer infantilidade. Pela psicanálise percebemos que o imaturo (nas emoções, nas relações familiares, nas relações sociais, etc.) ainda guarda muito, ou quase tudo, da criança que foi dentro de si. E tal criança ainda é ativa, é operante, teimosa, habilidosa, ainda é capaz de trazer à cena real atual muito de “sua majestade, o bebê”, ainda é a voz no comando!
A ignorância, ausência de conhecimento, pode ser recuperável ou intransponível, culpável ou invencível. Culpável, quando a pessoa a diagnostica e dispõe de meios para dela sair e, no entanto, permanece sob tal condição; invencível, quando a pessoa sequer se dá conta dela.
Quanto a errar na vida, quer-se dizer que erro (ou conhecimento equivocado) é quando alguém se convence, por exemplo, de algo que não é verdadeiro, mas assim parece em virtude de sua frequente repetição. Nesse ponto, uma triste associação se faz evidente: “Uma mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade.” – frase atribuída a Joseph Goebbels, o poderoso Ministro da Propaganda na Alemanha de Hitler… Contudo, semelhantemente, muito de errado em termos de conceitos e valores pode estar constantemente sendo repetido a nossas criancas e jovens por adultos, autoridades e instituições com interesses distintos dos da verdade, da ética e do amor.
O cinismo é entendido como aquilo que acontece em nossos processos mentais e emocionais quando, cansada de lutar para mudar o que parece repreensível, a pessoa aceita o fato por lhe parecer irreversível e passa a insistir em convencer a si mesma (e também aos outros) de que nada há de errado naquilo. Talvez a explicação que a escritora e pensadora Hannah Arendt nos apresentou (no seu livro Eichmann em Jerusalém) a cerca da banalidade/banalização do mal se enquadre nesse modelo. Ou, por outra, o cinismo vê-se instalado quando a pessoa que sabe haver afrontado algum pirincípio ético, moral, religioso, num sísmico movimento interno assume a falta e vocifera, sem arrependimento e até com orgulho, questionando ameaçadoramente a surpresa dos demais, algo como os clássicos “é isso mesmo, e daí?!”, “fiz e faço de novo!”. Pensando um pouco mais psicanaliticamente, arrisco que o cinismo sobrevem no cansaço de lutar contra a “maré” que toma aquela pessoa e, por acomodação, para sobrevicência do ego, ela se rende a um suposto “princípio de realidade” emanado daquele mundo exterior (sim, a “realidade” do Princípio de Realidade pode estar equivocada). Todavia, se assim o for, a estratégia de adoção do cinismo como forma de sobrevivência no meio então hostil poderia, também, ser pensada como uma vitória da pulsão de destrutividade, vale dizer, uma anulação do processo preconizado por Santa Catarina de conquista do conhecimento de si. O cinismo, portanto, é algo que precisa ter força suficiente para embotar a própria consciência.
Desespero, como aquilo que nos assalta quando, prostrada de lutar, e às vezes também de tentar se convencer de que o que está errado não está errado, a pessoa renuncia à esperança e se esconde, por exemplo, no passado. Evidentemente, como perceberam, trata-se de um obstáculo que “dialoga” muito com o cinismo.
Pode-se postular um objetivo para se vencer esses cinco obstáculos poderosos e buscar-se maximamente o conhecimento de si mesmo, e tal objetivo é chegar também maximamente próximo da verdade. A questão da verdade tem implicado em caudalosos oceanos de textos, estudos e livros de filosofia, de religião, de psicologia, da literatura, etc. E o debate a respeito jamais cessará. Há uma verdade única, total, absoluta, ou toda verdade vista como verdade será sempre relativa? Santa Catarina possuía uma concepção muito clara de verdade: verdade é conhecer-se a si em Deus, no plano de Deus.
Ela raciocinará com a dialética não-ser / ser. Alcançado o conhecimento de si, mercê da vitória na luta contra os obstáculos, por determinação e inspiração em Cristo, eu entenderei que “sou o que não-é” e que “Deus é o que é”, é o que sempre foi; vale dizer, e eis o significado: eu não me dou o ser a mim mesmo, eu não me crio, isto é, eu recebo meu ser desde outra instância, seja a providência divina na visão religiosa, sejam os progenitores, por óbvio, na visão puramente biológica mecanicista, sejam as figuras de pai e mãe, sobretudo, na explicação psicanalítica. (Foucault, na sua “Analítica da Finitude”, em As palavras e as coisas, recorda-nos que em termos ontológicos o homem não é, mesmo, a fonte do mundo, de seu corpo, sua linguagem, etc., contudo, epistemologicamente ele deveras é, ou pode ser, a fonte de seu conhecimento – e eu então acrescentaria do conhecimento de si.) Assim, fica fácil de ver que se eu não sou o criador de mim, há algo que necessariamente deve estar antes, e na concepção católica de Catarina trata-se de Deus, que por nos criar e estar conosco, compartilha conosco “nosso” eu, não restando mais lugar/oportunidade para todos aqueles agentes (obstáculos malignos) que disfarçadamente nos comandavam, e, por isso, fica clara a resposta para a pergunta: “Quem é o Senhor que vive em mim?” – para ela é Deus, mas é o Deus em parceria com cada qual de nós, numa espécie de operação conjugada. Eu falei no início da necessidade de um método para busca do autoconhecimento, e é esse método que venho aqui tecendo linha após linha, muito inspirado em Catarina; todavia, para os que não se sentem confortáveis numa rota de tão forte fé, podemos extrair os pilares universalmente válidos. Ora desvestidos dos engodos mundanos dos obstáculos, na mirada heróica ao espelho do eu mais autêntico, pode-se colocar a falar e a viver dentro de nós o eu verdadeiro, puro no sentido de ser próprio e imaculado às opiniões terceiras e venenosas, e bem assim não orgulhoso nem narcísico, mas sereno e sabedor de suas limitações e de sua finitude, disso construindo sua força e sua grandeza, nisso forjando sua matéria e seu discurso pessoal.
E nesse ponto podemos, então, saltar para as considerações que Catarina faz relativamente à palavra. O “conhecimento de si em Deus” e o “conhecimento de Deus em si” é uma dialética robusta que, ao lado da fé, só é possivel pela “rota” da palavra. Em psicanálise sabe-se muito bem da importância da palavra, a “talking cure” de Anna O ecoa nos ares até nossos dias; a dança “lacaninana” dos significantes/significados continua a assombrar a cabeça de muitos dedicados psicanalistas e, no tocante à Anna, Lacan dizia: “Quanto mais Anna dava significantes e tagarelava, melhor a coisa ia.”17 Mesmo na filosofia, a palavra, que já ocupava lugar de destaque único desde Sócrates e sua Maiêutica, chegará em Derrida a uma afirmação quase truculenta, a de que “não existe o fora texto”, algo como nada existe fora da linguagem, sem que, por certo, seja sensato não destacar nesse sumaríssimo roteiro o filósofo Wittgenstein e a filosfia da linguagem comum. Por outro lado, desnecessário salientar a importância ímpar da palavra escrita e falada nas mais diferentes religiões e práticas religiosas, palavras e cantos, citando-se, e isso só já bastaria, o padre Antonio Vieira e seus “Sermões”.18
Mas o texto de Catarina costuma ser leve e claro. Talvez porque ela não se formara numa elite intelectual religiosa, talvez porque não fosse de uma outra elite à época, seja a social seja a de conotação acadêmica, talvez porque tenha sempre optado por estar junto às pessoas e ao povo, com estes se comunicando e deles a Deus, não se sentia compelida a dar ao texto outro propósito qual não fosse o de servir a Deus, a Cristo e às pessoas. Assim, a literatura de Catarina não se enquadra adequadamente naquilo que se aplica ao comum dos textos místicos, como, num interessante artigo, o filósofo e psicoterapeuta John Gale comenta a respeito do místico Angelus Silésio:
“Como em toda escrita mística, os epigramas de Silésio são uma tentativa de falar sobre o inefável – aquilo que é fundamentalmente incapaz de ser expresso ou usando o idioma de Wittgenstein ‘não faz parte do mundo’ – e, consequentemente, incognoscível (Tractatus 5.641). Nesse sentido, é claro, eles são necessariamente ‘elípticos para sempre, taciturnos, enigmáticos, obstinadamente retraídos … inacessíveis’ (Derrida 1995: 85). De fato, ‘vagando’. No entanto, apesar da aparente incoerência, eles fazem parte de um discurso compartilhado. Como tal, eles nos falam, antes de tudo, da sociedade e, particularmente, do contexto eclesial em que surgiram. O que Lacan faz, chamando nossa atenção para eles, é sugerir que, por mais obscuros que sejam seus significados, eles são significativos. E que o místico como modus loquendi, semelhante ao poético com o uso de imagens, aponta além de si mesmo, abrindo assim uma nova perspectiva ‘no limite do mundo’ (Tractatus 5.632; cf. Baruzi 1931-32).”19
Estudando o dom e o papel da linguagem humana em relação à fé, Catarina perceberá a existência de três funções máximas no uso da palavra: (1) verbalizar as próprias falhas, denunciando-as (estado de penitência); (2) louvar a Deus (estado de adoração); e (3) edificar outros (estado de caridade). (Fica irresistível a provocação de associar a isso o caminho de uma pretensa cura psicanalítica: 1. entrar em contato com e verbalizar seus recalques, seus fantasmas, num estado penitencial de desnudamento diante de si; 2. saudar o processo e encantar-se com – adorar – a descoberta/diagnóstico; 2. edificar-se novo pela cura, um outro eu renascendo daquele que portava suas patologias.)
Essa forma de via ou caminho da palavra estrutura a vida de quem busca e pratica o conhecimento de si mesmo, retroalimentando o processo de aprender no caminho ao tempo em que, simultaneamente, realiza o que nele (no caminho) está preconizado. Entende ela que o uso ajustado da palavra, já o ser liberto dos esvaziamentos de si que o rio traiçoeiro do pecado sempre acarreta (os tantos cantos das sereias e as seduções manipuladoras da vida atual, como, por exemplo, a já citada propaganda), ao esclarecer no quantum máximo possível a natureza de cada um, suas verdadeiras marcas e papéis, o aproximará inapelavelmente das grandes e verdadeiras virtudes, resgatando o ser do pseudo conhecimento de si, aquele que tende a se instalar baseado exclusivamente em seu mundo subjetivo. Paradoxalmente, a rota e a prática devida da palavra eleva o ser humano a uma condição em que o conhecimento se torna inefável e pode apenas ser experienciado e vivenciado. Já aqui saliento novamente algo muito aproximado do terceiro estádio, o religioso, da visão de Kierkegaard para o crescimento humano.
O processo de conhecer-se a si, quando alcança êxito, coloca cada um de nós num mesmo patamar, que, para Catarina, se refere aos desejos profundos, caracterizados pelas palavras/tríade (i) sabedoria (verdade), (ii) amor e (iii) poder (memória, no sentido de Santo Agostinho, memória de si). Todos nós, não importa qual a condição atual de cada um, queremos conhecer a verdade, queremos ser amados e queremos ter o poder (capacidade) para atingir nossos propósitos mais próprios e, portanto, neste fato fica registrada uma antropologia. “Antropologia”, em verdade, que é o estudo prático de erros e acertos acumulados, que cada um de nós, a cada dia, desempenha no próprio existir, a fim de que consiga obter um pouco mais de compreensão para a perplexidade que nos paralisa diante do fenômeno de ser.
E, porque apropriado, se inaugurei o artigo com um forte poema de um brilhante poeta português, o Pessoa, vou encerrá-lo com outro provocador e pertinente poema – Sísifo – de um igualmente notável poeta português, o Miguel Torga.
“Recomeça….
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…”
Miguel Torga. Diário XIII. Diário: Volumes XIII a XVI. Alfragide, Portugal: Dom Quixote, 2011. https://www.leyaonline.com/pt/livros/biografias-memorias/diario-vols-xiii-a-xvi/
Bibliografia de interesse
Em Português
João Alves Basílio. Vida de Santa Catarina de Siena. 1ª. ed. São Paulo: Paulus Editora, 1993. 9ª. reimpressão, 2018, 92 p.
Santa Catarina de Sena. Cartas completas. São Paulo: Paulus Editora, 2016. 1344 p. (https://www.paulus.com.br/loja/cartas-completas_p_4362.html)
Santa Catarina de Sena. O Diálogo. 1ª. ed. São Paulo: Paulus Editora,1985. 17ª. reimpressão, 2019, 416 p. (https://www.paulus.com.br/loja/o-dialogo_p_1094.html)
Sigrid Undset. Catarina de Siena. [Trad.: Maria H.A. Lima Senise]. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1956. 287 p. Disponível em:
http://alexandriacatolica.blogspot.com/2011/07/catarina-de-siena-sigrid-undset-livro.html)
Em Inglês, Espanhol e Italiano
Blessed Raymond of Capua. The Life of St. Catherine of Siena. [Trad.: George Lamb.] Rockford, Illinois: TAN Books, 2003.
Catherine of Siena. The Dialogue. ed. Suzanne Noffke. New York: Paulist Press, 1980.
Fry Nelson Medina, O.P. Sobre el Conocimiento de Sí Mismo. 40 p. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/95890/295119.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Girolamo Gigli (ed.) L’opere di Santa Caterina da Siena, 4 vols., Siena e Lucca, 1707-1721.
Giuliana Cavallini (ed.). Il Dialogo della divina Provvidenza: ovvero Libro della divina dottrina. 2 ed., Siena: Cantagalli, 1995. [Edição crítica italiana.]
Idem. 26 Prayers is Catherine of Siena, Le Orazioni, Rome: Cateriniane, 1978. [Edição crítica italiana.]
McDermott, Thomas, O.P. Catherine of Siena: spiritual development in her life and teaching. New York: Paulist Press, 2008.
Ver também:
Centro Internacional de Estudos Catarinianos
http://www.centrostudicateriniani.it/it/1/1cronologia.html
Notas e referências
[1] Assim escreve de forma bela Neyza Prochet em sua Conferência A dor e o existir: Fernando Pessoa, que fez parte da mesa-redonda A Psicanálise falando da Arte e da Dor, realizada no CPRJ em 01/09 e e publicada em Cad. Psicanál.- CPRJ, Rio de Janeiro, v. 34, n. 27, p. 11-21, jul./dez. 2012. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cadpsi/v34n27/a01.pdf (Acessado em 3/fev./2020.)
[2] Gustavo dos Santos Oliveira. O pensamento de São Tomás de Aquino e Ontopsicologia: uma breve elucidação acerca do conceito de intelecto. Saber Humano, Edição Especial: Cadernos de Ontopsicologia, 2016. p. 90-103. Disponível em:
(Acessado em 1/fev./2020.)
Ver também:
Santo Tomás de Aquino. O Apetite do Bem e da Vontade. São Paulo: Ed. Edipro, 2015. 176 p.
https://www.edipro.com.br/produto/o-apetite-do-bem-e-da-vontade-2/
[3] Apuleio. O asno de ouro. [Trad.: Ruth Guimarães. Apresentação e notas adicionais de Adriane da Silva Duarte. Edição bilíngue]. São Paulo: Editora 34, 2019. 480 p.
http://www.editora34.com.br/detalhe.asp?id=1041
[4] Numa tradução livre:
“A resposta é: conhecimento de si. Sem este conhecimento, deixamos de entender o contexto vital que dá origem ao que chamamos de ‘experiência’, que por sua vez é um requisito para a ‘sabedoria’. A experiência é um saber que requer contexto, e o contexto que nos leva a esse saber é conhecer a nós mesmos.”
“Pode-se dizer que existem muitos conhecimentos exteriores, porém que este outro é um conhecimento interior, porque não se liga a coisas nem às vidas de outros, nem aos danos ou benefícios imediatos das próprias ações ou das outras pessoas. Mas também não é um simples olhar para dentro, como se alguém estivesse pegando uma câmera de filmagem e, em vez de focalizá-la na rua, a focasse na sala de estar da casa em que se encontra. É algo mais profundo que descobriremos pouco a pouco.”
Fry Nelson Medina, O.P. Sobre el Conocimiento de Sí Mismo. p. 3. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/95890/295119.pdf?sequence=1&isAllowed=y (Acessado em 1/fev/2020.)
[5] Santa Catarina de Sena. O Diálogo. 1ª. ed. São Paulo: Paulus Editora,1985. 17ª. reimpressão, 2019, p. 33.
[6] AZEVEDO, F. A. São Vicente de Paulo, Charcot e Freud. Portal Tempo Análise, 16/maio/2017
https://tempoanalise.com.br/sao-vicente-de-paulo-charcot-e-freud/
(Acessado em 13/abril/2019)
AZEVEDO, F. A. As Fatalidades (ou agora sei o porquê de não ganhar na mega-sena). Portal Tempo Análise, 25/maio/2017
https://tempoanalise.com.br/as-fatalidades-ou-agora-sei-o-porque-de-nao-ganhar-na-mega-sena/
(Acessado em 13/abril/2019)
AZEVEDO, F. A. Espaço: Um, nenhum, cem mil / Tempo: Como estamos envelhecendo! Aqui e agora. Portal Tempo Análise, 18/jun./2017
https://tempoanalise.com.br/espaco-um-nenhum-cem-mil-tempo-como-estamos-envelhecendo-aqui-e-agora/
(Acessado em 13/abril/2019)
AZEVEDO, F. A. O sujeito na nova sociedade: nova ansiedade e novos terapeutas. Portal Tempo Análise, 3/abril/2018
https://tempoanalise.com.br/o-sujeito-na-nova-sociedade-nova-ansiedade-e-novos-terapeutas/
(Acessado em 13/abril/2019)
AZEVEDO, F. A. Estamos perdendo nossa dimensão humana: Von Balthasar, o Eu e a aceleração do escapismo (I). Portal Tempo Análise, 1/jun./2018
(Acessado em 13/abril/2019)
AZEVEDO, F. A., SOUZA NETO, M.J. Kierkegaard: quando a filosofia não expulsa a religião. Portal Tempo Análise, 11/abril/2019
https://tempoanalise.com.br/kierkegaard-quando-a-filosofia-nao-expulsa-a-religiao/
(Acessado em 13/abril/2019)
AZEVEDO, F. A. Conhecer-se, moderar-se e ser. Portal Tempo Análise, 9/ago./2019
https://tempoanalise.com.br/conhecer-se-moderar-se-e-ser/
(Acessado em 25/janeiro/2020)
AZEVEDO, F. A. Tecnologias de produção do eu (considerações primeiras). Portal Tempo Análise, 18/set./2019
https://tempoanalise.com.br/tecnologias-de-producao-do-eu-consideracoes-primeiras/
(Acessado em 25/janeiro/2020)
AZEVEDO, F. A. Ainda o sujeito… Portal Tempo Análise, 7/out./2019
https://tempoanalise.com.br/ainda-o-sujeito/
(Acessado em 25/janeiro/2020)
AZEVEDO, F. A. Notas sobre Sá de Miranda e os conflitos do eu. Portal Tempo Análise, 31/out./2019
https://tempoanalise.com.br/notas-sobre-sa-de-miranda-e-os-conflitos-do-eu/
(Acessado em 25/janeiro/2020)
AZEVEDO, F. A., SOUZA NETO, M.J. A vontade como antídoto ao nosso desespero kierkegaardiano. Portal Tempo Análise, 15/jan./2020
https://tempoanalise.com.br/a-vontade-como-antidoto-ao-nosso-desespero-kierkegaardiano/
(Acessado em 25/janeiro/2020)
[7] Peter Manseau. Rag and Bone: a journey among the world’s Holy Dead. Nova Iorque: Henry Holt & Co., 2009. 256 p. [Algumas [freiras], a mais famosa delas, Santa Catarina de Siena, imaginava-se vestindo o prepúcio como um anel de casamento.]
A história desse prepúcio é longa e com muitos lances, mesmo o Nobel de Literatura e festejado escritor português Saramago, o menciona em “seu” Evangelho: “No oitavo dia depois do nascimento, levou José o seu primogénito à sinagoga para ser circuncidado, e ali o sacerdote cortou destramente, com uma faca de pedra e a habilidade de um prático, o prepúcio da chorosa criança, cujo destino, do prepúcio falamos, não do menino, daria por si só um romance, contado a partir deste momento, em que não passa de um pálido anel de pele que apenas sangra, e a sua santificação gloriosa, quando foi papa Pascoal I, no oitavo século desta nossa era. Quem o quiser ver, hoje, não tem mais do que ir à paróquia de Calcata, que está perto de Viterbo, cidade italiana, onde relicariamente se mostra para edificação de crentes empedernidos e desfrute de incréus curiosos”. José Saramago. O evangelho segundo Jesus Cristo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. p.88-9.
[8] BENTO XVI. Catequese de Bento XVI sobre Santa Catarina de Sena: 24 de novembro de 2010. Disponível em: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=279012. Acessado em 02/fevereiro/2020.
[9] Vale destacar algumas importantes obras da época que nos trazem muito de Santa catarina:
- A “Vita”, escrita pelo conselheiro espiritual dela, Raimundo de Cápua, dominicano. Em 1834, ele inicia a “Legenda Major”, terminada em 1395.
- A “Libellus de Supplemento” (Pequeno Livro Suplementar), escrita entre 1412 e 1418 por Tommaso d’Antonio Nacci da Seine (Tomás de Siena ou Tomás Caffarini). Trata-se de uma expansão da Legenda Major que inclui notas do primeiro confessor de Catarina, Tommaso della Fonte (mas que se perderam). Depois Caffarini publicou um relato mais curto da vida de Catarina, o qual passou a ser conhecido como “Legenda Minor”.
- De 1411 em diante, Caffarini coordenou a compilação do “Processus de Veneza”, o conjunto de documentos submetidos para a canonização, com o testemunho de discípulos de Catarina.
- Existe uma obra denominada “Miracoli della Beata Caterina”, de um florentino anônimo.
[10] Sigrid Undset. Catarina de Siena. [Trad.: Maria H.A. Lima Senise]. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1956. p. 224. Disponível em:
http://alexandriacatolica.blogspot.com/2011/07/catarina-de-siena-sigrid-undset-livro.html)
[11] Angela Di Paolo Mota. Subjetivação: aproximações possíveis entre Freud e Pessoa. Rev.Mal-Estar Subj. v.13, n.1-2: 133-154, Fortaleza jun. 2013. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482013000100006 (Acessado em 5/fev/2020.)
Nelson da Silva Junior. Fernando Pessoa e Freud – diálogos inquietantes. Editora Blucher, 2019. 332 p.
https://www.blucher.com.br/livro/detalhes/fernando-pessoa-e-freud-1524
[12] Sigrid Undset. Catarina de Siena. [Trad.: Maria H.A. Lima Senise]. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1956. p. 25.
[13] Descrição da Ponte
“(…) Quero descrever-te a ponte. Já disse que ela se estende do céu à terra, graças à união (hipostática) que realizei com o homem formado do limo da terra. Essa ponte é meu Filho e possui três degraus; dois deles foram construídos no madeiro da cruz e o terceiro, quando ele na amargura bebeu fel e vinagre. Em tais degraus reconhecerás três estados da alma, como abaixo explicarei. O primeiro degrau é formado pelos pés; significam o amor, pois como os pés transportam o corpo, assim o (duplo) amor faz caminhar a alma. Os pés cravados na cruz servem-te de degrau para atingir a chaga do peito, que te revela o segredo do coração. Após subir até aos pés pelo amor, o homem fixa o pensamento no coração aberto de Cristo e saboreia sua caridade inefável e consumada. Disse caridade ‘consumada’, porque Cristo vos ama sem interesse pessoal; em nada sois de utilidade para ele, que forma uma só coisa comigo. Vendo-se amada, a pessoa se enche de caridade. Enfim, após atingir o segundo degrau, chega-se ao terceiro, que é a boca de Cristo. Nela o homem encontra a paz, depois (de vencer) a grande guerra contra as próprias culpas. No primeiro degrau o cristão se afasta da afeição terrena, despoja-se dos vícios; no segundo, adquire as virtudes; no terceiro, goza a paz. São três, portanto, os degraus da ponte: passa-se do primeiro ao segundo, para atingir o último. A ponte é alta; quando se passa por ela, a água do pecado não atinge a alma. Em Jesus não houve pecado.”
Santa Catarina, “Diálogo”, partes 11, 12.
Não há como não se associar aqui essa passagem da Santa aos três estádios do caminho traçado por Kierkegaard para obtenção de uma paz interior sábia e definitiva, junto ao sagrado: os estádios estético, ético e religioso. Em que pese, quiçá, uma certa dificuldade de aproximação dos iniciais de cada sequência, os dois seguintes guardam muita conexão. Ver: Kierkegaard: quando a filosofia não expulsa a religião, no Portal Tempo Análise: https://tempoanalise.com.br/kierkegaard-quando-a-filosofia-nao-expulsa-a-religiao/, e A vontade como antídoto ao nosso desespero kierkegaardiano, também no Portal Tempo Análise: https://tempoanalise.com.br/a-vontade-como-antidoto-ao-nosso-desespero-kierkegaardiano/.
[14] Santo Agostinho. Confissões. Le livros. p. 47. Disponível em:
http://lelivros.love/book/baixar-livro-confissoes-santo-agostinho-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/ (Acessado em 20/jan/2020.)
[15] Machado de Assis. Dom Casmurro. Rio de Janeiro : H. Garnier, Livreiro-Editor, 1899. p. 206
Disponível em:https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/4828 .(Acessado em 6/fev/2020.)
[16] Fry Nelson Medina, O.P. Sobre el Conocimiento de Sí Mismo. 40 p.
[17] Jacques Lacan. O Seminário. Livro 11: os quarto conceitos fundamentais da psicanálise. 1964 [Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Tad.: M.D.Magno.] Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 155.
[18] O padre Antônio Vieira (1608-1697) escreveu diversos sermões. Perto de 200 chegaram a nós. No “Sermão da Sexagésima”, um dos mais citados, e que foi escolhido por ele mesmo para abertura do compêndio de seus sermões, fala-nos sobre a arte de pregar e de falar às multidões, e apresenta a profissão de fé do pregador. Por oportuno relativamente aos tempos atuais brasileiros, outro sermão de Vieira, o “Sermão do bom ladrão”, traz, talvez como profecia, revelando o grande entendimento do padre sobre os problemas do Brasil e nossos, ataques e críticas aos que (em seu tempo como hoje) se valiam da máquina pública para enriquecimento ilícito! Nossa improbidade administrativa remonta a séculos e sermões…
[19] John Gale. Angelus Silesius: some Lesefrüchte on the background to Lacan’s seminar. European Journal of Psychoanalysys.
http://www.journal-psychoanalysis.eu/angelus-silesius-some-lesefruchte-on-the-background-to-lacans-seminar/ (Acessado em 20/jan/2020)
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Por oportuno, registro o recentíssimo evento promovido pela Arquidiocese de Braga, Portugal, e reportado pelo jornal Diário do Minho (https://www.diariodominho.pt/2020/02/15/fe-ciencia-realidades-interligadas-imprescindiveis/ )
«Há uma relação imprescindível entre a Fé e a Ciência», afirmou D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, que admitiu que no passado «cometeu-se um erro» quando se pensou em «separar a Fé da Ciência».
«Apostou-se, em determinada altura, numa separação, talvez um erro. Pois efetivamente não são realidades separadas, mas sim realidades que se interligam», destacou o Arcebispo, em declarações à margem da terceira conferência do ciclo que está abordar a relação entre Fé e Ciência.
D. Jorge Ortiga destacou que a «Fé precisa da Razão e a Razão precisa da Fé».
«Hoje o diálogo entre fé e ciência é imprescindível. Uma harmonia que nos faz crescer como seres humanos e simultaneamente como cristãos. Para que a Fé seja mais racional e para que a Razão tenha outras perspetivas que nem sempre tem, pois há uma dimensão que não consegue atingir se não for a fé e a espiritualidade», apontou.
O convidado da conferência promovida pela Pastoral da Cultura da Arquidiocese de Braga na sala de atos do Museu Pio XII/Henrique Medina, e que voltou a encher para uma viagem à boleia dos dogmas e sapiência, foi o médico psiquiatra e catedrático na Universidade do Porto, António Palha que proporcionou uma viagem ao longo da história da psiquiatria até ao tempos da inteligência artificial.
Para António Palha a espiritualidade, seja ela cristã ou islâmica, está de mãos dadas com as questões da psiquiatria.
Excelente texto!