A PALAVRA por Rubem Braga
27 de julho de 2018Para Conhecer Sigmund Freud
4 de agosto de 2018Arthur Schnitzler foi um escritor e médico austríaco. Nasceu em Viena, a 15 de maio de 1862, e faleceu nesta mesma cidade, a 21 de outubro de 1931 de AVC. A família cultivava a literatura e convivia com vários escritores. Schnitzler publicou o primeiro livro aos 18 anos: A canção de amor da bailarina. Johann Schnitzler, seu pai, vinha família judaica simples e se mudou de Budapeste para Viena. Lá se casou com Luise Markbreiter, filha de famosa família. Tornou-se médico respeitado e diretor do hospital “Allgemeine Poliklinik”. Seu filho Arthur frequentou, 1871 a 1879 o liceu, tendo mais tarde completado o curso de medicina (1885). Cedo voltou seu interesse pela psicologia. Trabalhando como médico com o psiquiatra Theodor Meynert fazia experiências com a hipnose e a sugestão como técnicas terapêuticas. Mais tarde foi assistente de seu pai no hospital “Poliklinik”. Em 1893, abriu uma clínica privada, à qual se dedicou cada vez menos devido à crescente atividade literária. Exerceu a profissão de psiquiatra até 1894, quando decidiu dedicar-se à literatura.
Como escritor, notabilizou-se com a publicação das peças de teatro Anatol (1893) e Ronda (1897), que descrevem a atmosfera de erotismo e melancolia da Viena do fim-de-século – e causaram escândalo quando encenadas. Schnitzler é frequentemente comparado com Sigmund Freud. Nos seus dramas e novelas usa a técnica do “fluxo de consciência”, em que mostra drasticamente a atividade subconsciente dos seus protagonistas. Seu ciclo “Der Reigen” provocou um grande escândalo e foi censurado como pornografia.
As semelhanças entre Sigmund Freud e Arthur Schnitzler são indiscutíveis. Ambos viveram, cada um ao seu modo, intensamente a psicanálise. Em carta para Schnitzler, de 14 de maio de 1922, Freud tece algumas observações sobre a obra do escritor e confessa ter evitado, durante muito tempo, ser apresentado a ele, pois, ao ler seus textos, acreditava que se tratava de seu “duplo”. Alguém que, como ele, era “explorador das profundezas” e que mostrava “as verdades do inconsciente”. Afirmou Freud: “Acho que evitei o senhor por causa de uma espécie de relutância em conhecer o meu sósia. Não que eu me incline facilmente a identificar-me com outrem, ou que pretenda fazer pouco da diferença de talento que me separa do senhor, mas todas as vezes em que me absorvo profundamente nas suas belas criações pareço sempre encontrar sob uma superfície poética os mesmos pressupostos, interesses e conclusões que alimento. (…) De modo que criei a impressão de que o senhor sabe, pela intuição – ou, antes, em virtude de minuciosa auto-observação –, tudo o que eu descobri mediante laborioso trabalho em outras pessoas.” [Ver: http://www.freudiana.com.br/destaques-home/cartas-de-sigmund-freud-a-arthur-schnitzler.html]
Obras de Schnitzler lançadas em Português:
Edições brasileiras
- Senhorita Else (1985). Paz e Terra
- Contos de Amor e Morte (1987). Cia das Letras.
- Retorno de Casanova (1988). Cia das Letras.
- Retorno de amor e morte (1999). Cia das Letras.
- Breve romance de sonho (2000). Cia das Letras.
- O Caminho para a liberdade (2011). Record.
- A Ronda. Relógio D’Água
- História de um sonho. Ed. Ficções.
- Relações e solidão. Relógio D’Água
- A menina Eise. Cotovia
- Cacatua Verde. Bicho do Mato.
- Senhora Beate e seu filho. L&PM.
Edições portuguesas
- Morrer (1961). Ed. 70.
- Contos (1985). Apáginastantas.
- Anatol (1986). Estante.
- O tenente Gustl (1988). Difel.
- A história de um sonho (2001). Relógio D’Água.
- Casanova regressa a Veneza (2007). Evoramons.
- Menina Else (2008). Cotovia.
- A cacatua verde: grotesco num acto (2011). Bicho do mato.
- A ronda: dez diálogos (2012). Relógio D’Água.
Agora, nesse 3 de agosto, em São Paulo, o grupo Tapa apresenta, no Teatro João Caetano, a peça Anatol ,até então ainda inédita no Brasil, sob direção de Eduardo Tolentino de Araujo [Ver Leandro Nunes em: https://cultura.estadao.com.br/noticias/teatro-e-danca,grupo-tapa-estreia-anatol-peca-criticada-por-erotismo-mas-celebrada-por-freud,70002427977 e comentário de Maria Luísa Barsanelli em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/08/montagens-resgatam-ineditos-de-arthur-schnitzler-e-brad-fraser.shtml].
“Dividida em seis curtos episódios, com diálogos carregados de humor ácido, a peça traça as aventuras e desventuras de um Don Juan moderno em sua busca incessante de prazer em relações desprovidas de afeto. Em cada história, Anatol e seu cúmplice Max (uma espécie de duplo do protagonista) têm amantes diferentes – burguesas, atrizes, prostitutas e costureiras –, sem fazer distinção de idade, classe social ou estado civil.” [Ver: http://flertai.com.br/2018/07/grupo-tapa-estreia-anatol-obra-inedita-no-brasil-do-austriaco-arthur-schnitzler/.]
http://pacificresidenttheatre.com/arthur-schnitzlers-anatol/
Vale também o comentário de Leo Carey The stories of Arthur Schnitzler, the amoral voice of fin-de-siècle Vienna (2002), em: https://www.newyorker.com/magazine/2002/09/09/the-dream-master .
Para aprofundamento ver o artigo de Lorenzo Bellettini, Freud’s Contribution to Arthur Schnitzler’s Prose Style, em Rocky Mountain Review of Language and Literature, V. 61, N. 2 (2007), p. 11-27 [https://www.jstor.org/stable/20058179?seq=1#page_scan_tab_contents].